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Crianças sob o sol

Da Revista Saúde é Vital

Viver em um país tropical não deixa de ser um privilégio, mas exige cuidados e atenção redobrados quando a garotada passa mais tempo brincando ao ar livre

Por por Camila Carvas / Design Gisele Pungan / Ilustração Bruno Okada

Dias iluminados e mais longos, lindas tardes ensolaradas, roupas mais leves e uma deliciosa sensação de prazer e liberdade — esse cenário, combinado com o início das férias escolares, é perfeito para fazer a alegria de meninos e meninas em praias, piscinas, passeios e brincadeiras ao ar livre. Mas para evitar que castelos de areia se desfaçam em vermelhidão, bolhas e outras dores de cabeça, é preciso ficar de olho na fotoproteção dos pequenos. Quanto mais cedo esses cuidados começarem, melhor.

Apesar de ter a estrutura igual à dos adultos, com a mesma quantidade de camadas, a pele dos bebês é bem mais fina e, consequentemente, muito mais sensível. Além disso, durante o primeiro ano de vida, a produção de melanina, substância que absorve a luz e protege a derme da ação da radiação, não é plena. Por isso, crianças pequenas não têm condições físicas de fi - car expostas ao sol por períodos que não sejam curtíssimos. “Os raios ultravioleta (UV) e o calor encontram menor resistência na pele delas, podendo provocar brotoejas e queimaduras solares intensas”, diz o médico Yechiel Moises Chencinski, da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Como os filtros solares não são recomendados até os 6 meses de idade — eis a questão —, até lá o ideal é manter o bebê na sombra, com chapéu de abas largas para proteger completamente a região delicada das orelhas e da nuca. Para completar o visual, as roupinhas devem ser pouco cavadas e com uma trama fechada, que ajuda a barrar a passagem da radiação. “Hoje já existem tecidos tratados com produtos anti-UV”, lembra o oncologista Cristiano Horta, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo.

O importante é saber que, ao introduzir e estimular a fotoproteção durante a infância, cria-se um hábito que vale para a vida toda. Não custa repetir que, embora sejam raros os casos de câncer de pele em crianças, os efeitos da radiação ultravioleta são cumulativos e irreversíveis. No dia a dia dos maiorzinhos, portanto, vale o bom senso: se a criança for passar boa parte do tempo em áreas descobertas, não dá para ficar sem o protetor! “No mínimo, um fator 30”, diz a dermatologista pediátrica Nadia Almeida, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. “Antes, teste atrás da orelha ou na dobrinha do cotovelo para detectar possíveis alergias.”

Na hora de usar o protetor solar, nada de economia. É preciso passar uma camada generosa antes mesmo de sair de casa porque ele costuma demorar cerca de 20 minutos para fazer efeito. E faça uma verificação completa, como um detetive: orelhas, nuca, peito do pé, nada deve ser esquecido. Lugares em que o sol incide mais perpendicularmente, como o nariz e os ombros, devem receber uma atenção especial. Quando chegar à praia ou à piscina, a gastança do bem continua: independentemente de a criança ter suado ou não, ter entrado na água ou não, reaplique o creme a cada duas ou três horas.

Com tantos produtos colorindo as prateleiras, não é raro surgirem dúvidas sobre qual protetor comprar. Basicamente, são três tipos: físicos, químicos e mistos. Na opinião da dermatologista Maria Paula Del Nero, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, os físicos são os mais indicados para as crianças porque não penetram na pele. E fique mesmo com as linhas infantis, formuladas para minimizar intolerâncias e tirar o máximo proveito da fixação. “Além da loção branca, existem opções coloridas que facilitam a aplicação e divertem”, recomenda Maycon Ribeiro, cientista da Johnson & Johnson. Entre produtos resistentes e à prova d’água, saiba que a diferença entre eles é que o primeiro ainda faz efeito depois de 40 minutos na água, e o segundo, depois de 80.

Se já escolheu o destino de suas férias de verão, só mais um lembrete: a fotoproteção é válida na cidade, na praia, no campo e até mesmo em montanhas nevadas. E não se descuide nem nos dias nublados — aquela nuvem cinzaclara não é capaz de filtrar mais do que 10% da radiação. Abra um espaço na bagagem para óculos escuros, guardasol, chapéus e protetor solar e só traga boas lembranças na volta.

NO CALOR DO SOL...
Além da produção imatura de melanina, o organismo infantil não consegue regular tão bem a sua temperatura. Daí a importância, maior ainda, de caprichar na hidratação. Isso evita o risco de insolação e até mesmo o de lesões na pele. “A exposição aguda ao sol também aumenta os riscos de assaduras”, diz o pediatra Yechiel Moises Chencinski. “Sem contar que, quando constante, essa exposição na infância irá provocar, no futuro, além do fotoenvelhecimento, sardas, manchas, rugas, fl acidez e até doenças mais graves, como o câncer de pele.”

KIT BÁSICO PARA O VERÃO DOS PEQUENOS

HORÁRIO SEGURO
Evite o sol entre as 10 horas da manhã e as 4 da tarde. Mas não se descuide nunca, mesmo fora desse período de pico, e sempre considere o horário de verão.

GUARDA-SOL
É um acessório fundamental. Opte pelos modelos feitos de lona, material mais pesado, com uma trama fechada, que é mais eficiente na cobertura do que o de náilon.

ÓCULOS DE SOL
Não é tarefa fácil manter uma criança com óculos escuros, mas quem sabe usando modelos divertidos? Só vale se as lentes tiverem proteção UV, claro.

CHAPÉU
Troque o boné por um modelo de abas largas. Enquanto o primeiro só protege o rosto, o segundo cobre também a nuca e as orelhas.

CAMISETA
Ela serve de uma barreira física contra a radiação. As feitas com tecidos anti-UV são mais recomendadas, mas modelos de algodão também ajudam.

LÍQUIDOS
Até os 6 meses de idade, o bebê deve ser alimentado exclusivamente com leite materno. Depois disso, ofereça bastante água ou suco natural.

PROTETOR LABIAL
Os lábios também sofrem com a exposição ao sol. Por isso, não se esqueça desse produto no kit de praia — compre um só para a boca do seu pequeno.

PROTETOR SOLAR
O ideal é aquele com a maior fixação e o maior fator de proteção possíveis, além de resistente à água. Deve ser passado a cada duas ou três horas, conforme a intensidade do sol e as entradas no mar.