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Doses Homeopáticas

Da Revista Pais & Filhos - edição de julho/2014 - Nº 534

As bolinhas doces dos remédios homeopáticos não são nenhuma espécie de pílula mágica- elas são formulas feitas e testadas por médicos, que funcionam no organismo de uma maneira diferente dos remédios tradicionais.

Por por Cinthya Dávila (filha de Hernan e Eliana)

A maior vontade de uma mãe quando um filho fica doente é ter uma varinha mágica para tirar aquele mal-estar. Mas truques sobrenaturais infelizmente só existem nos contos de fadas. No mundo real, estamos acostumados mesmo a consultar o pediatra, levar ao hospital e, quando necessário, utilizar remédios como xaropes, anti-inflamatórios, analgésicos, antibióticos, antitérmicos, entre outros.

Mas, alem de todos esses tratamentos convencionais, existem outras linhas médicas, entre elas a homeopatia, que propõe tratar os pacientes de forma holística, ou seja, levando em consideração seus aspectos físicos, emocionais e psíquicos. A prática não é um assunto do alem e não utiliza poções mágicas. Ela é uma especialidade medica, reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) desde 1980.

O tratamento homeopático existe há mais de 200anos, mas ainda causa muitas duvidas o estranhamento. A melhor forma de compreendê-lo é como diz o ditado: em doses homeopáticas. Aliás, a expressão vem da maneira que esses remédios são feitos, com doses muito pequenas das substancias que causam as doenças. Como assim “causam doenças”? Pois é, o principio é o da lei de cura pelos semelhantes, ou seja, diz que toda substância capaz de provocar determinados sintomas numa pessoa sadia poderia curar essa mesmas sensações numa pessoa doente. A alopatia – medicina tradicional – trabalha com lei dos contrários, ou seja, os remédios fazem o efeito oposto ao da doença no organismo.

O pediatra e diretor da Associação Médica Homeopática Brasileira, Sérgio Furuta, pai de Fernando e Gustavo, explica: “Se uma pessoa que apresenta tosse tomar um medicamento homeopático, esse medicamento vai equilibrar o organismo, possibilitando que, por vias naturais, ele cure.”

HOMEOPATIA NO BRASIL

Desde que chegou ao Brasil, em 1840, a homeopatia teve muitas vezes sua eficácia questionada pela comunidade medica. Na década de 80, quando foi reconhecida como especialidade, passou também a ser oferecida como tratamento aos usuários do serviço público de saúde. Mas somente em 2006 que ficou assegurado o acesso aos usuários do Sistema Único de Saúde aos cuidados da homeopatia.

Dados do Conselho Federal de Medicina mostram que existem aproximadamente 15 mil médicos homeopatas no Brasil, e a prática ocupa a 16ª posição em números de profissionais, entre as 52 especialidades médicas reconhecidas pela entidade. No Brasil calcula-se que 17 milhões de brasileiros já tenham recorrido à linha em algum momento.

A PRIMEIRA DOSE

A homeopatia foi criada pelo médico alemão Samuel Hahnemann em 1796, em uma época em que as doenças eram tratadas pó métodos que usavam laxativos, sanguessugas e sangrias, proporcionando muito desconforto e poucos benefícios.

Insatisfeito com esses tratamentos, ele passou a procurar alternativas que pudessem ser mais eficazes, até que decidiu fazer uma experiência com a Quinina- substância usada para tratar a malária – usando-a em si mesmo. Em cada prova anotava os sintomas físicos, mentais, emocionais, as sensações e alterações comportamentais que sentia.

Com o tempo, passou a testar outras substâncias, inclusive as que causariam doenças. Descobriu que, quando utilizadas em doses muito pequenas, apresentavam efeitos medicamentosos, contribuindo para uma melhora no estado de saúde.

Hahnemann trabalhou com a lei de cura pelos semelhantes, já descrita por Hipócrates, o “Pai da Medicina”, que determina que toda substância capaz de provocar determinados sintomas numa pessoa sadia pode curar essas mesmas sensações numa pessoa doente, após passar por um processo especial de preparação.

Em busca de um equilibrio

A homeopatia enxerga o paciente como um todo. A teoria é do que, quando uma pessoa fica doente, ocorreu um desequilíbrio do eixo “psico-neuro-endócrino-imunologico” dela. Para tratá-la, o medico homeopata receita um medicamento que mexe com a energia do organismo.

“É comum pensar que o organismo está bem, adoece e se desequilibra. Na homeopatia nós enxergamos esse ciclo de maneira diferente. Na verdade o equilíbrio do organismo não está bem e por isso as pessoas adoecem”, diz o pediatra Moises Chencinski, pai de Renato e Danilo. E é aí que entra o remédio: para equilibrar o organismo, mais do que para curar a doença em si.

“Quando manipulados de forma homeopática, esses medicamentos têm o intuito de equilibrar o organismo do paciente, fazendo com que fique menos suscetível as doenças e proporcionando uma regulação física, emocional e comportamental”, explica Furuta.

Além de analisar as respostas do paciente e a forma como são dadas, o atendimento homeopático também considera os dados de análises clínicas, com a realização de exames laboratoriais, clínicos e radiológicos. Juntando esses dados, será escolhido um medicamento para iniciar o tratamento.

Maria Isabel de Almeida Prado, mãe de Vivian e Verônica, e diretora farmacêutica do laboratório Boiron Brasil, explica que o fato de a substância ser ultradiluída garante a segurança do remédio. Enquanto a criança estiver fazendo o tratamento, é importante observar como o organismo responde e comunicar ao medico as sensações que apresentou, levando em consideração mudanças de humor, apetite, suor, fezes, urina etc.

A grande vantagem na homeopatia, segundo os médicos, é que não causa efeitos colaterais, além de não interagir com outros medicamentos, de poder ser usada em todas as idades e de ser eficiente para aliviar os sintomas de determinados estados que não são doenças, como dentição, gravidez e menopausa.

Os especialistas ressaltam que o tratamento pode ser longo, dependendo da reação de cada paciente. Foi o caso do Gabriel, filho da jornalista Hanna Estevam, que começou a receber o tratamento homeopático aos 2 anos, por causa de uma otite que não passava. “No começo, como as crises eram constantes, demorou um pouco para a medicação fazer efeito, mas depois de alguns dias a inflamação cessou, a resistência do Gabriel começou a melhorar e as crises com otite diminuíram”, conta a mãe.

Hoje, Gabriel tem 7 anos e continua sendo tratado com homeopatia. Hanna conta que o intuito é cuidar de seu sistema imunológico. “Não me lembro da ultima vez que ele tomou um antibiótico. Assim como qualquer pessoa, ele fica doente, mas não é tão constante como era antes. Se ele precisar tomar um medicamento convencional não será um problema, mas até o memento o tratamento tem sido eficaz”, diz ela.

Os limites da homeopatia

Para que esses remédios reequilibrem a energia da criança, é preciso que ela tenha a energia para se curar. O conceito parece óbvio, mas mostra que dependendo do estado de saúde do paciente, o tratamento homeopático não pode ser feito de forma isolada, nem possui propriedades suficientes para curá-lo. "Se estamos tratando de uma doença que debilita muito o paciente, a homeopatia pode piorar o quadro, se não for usada de forma cuidadosa", diz Moises Chencinski.

Além disso, Furuta explica que existem doenças em que o pediatra não pode errar, pois podem colocar em risco a vida do paciente. "Quadros como broncopneumonia, meningite e até mesmo uma apendicite podem expor a pessoa a um risco de morte. O pediatra tem que saber que qualquer terapêutica tem suas limitações."

Em casos de doenças como câncer, Aids, diabetes, hipotireoidismo e obesidade, a homeopatia poderia ser usada apenas de forma complementar à alopatia, mas antes de indicar é preciso que o medico avalie com cautela as reais necessidades do paciente.

“Não vejo problema em tratar homeopatia com alopatia, mas existem casos em que, à medida que o paciente vai melhorando, nós podemos tirar aos poucos o medicamento alopático e manter o homeopático”, diz o sócio-fundador da Associação Medica Homeopática de Minas Gerais, Mário Antonio Cabral Ribeiro, pai de Uirá e Flora.

Medicação

Existem os remédios feitos especialmente para cada paciente em laboratórios de manipulação e existem os remédios homeopáticos de grandes laboratórios, vendidos em farmácias comuns. Este é o caso da chamada linha “organista”, em que formulas foram testadas e tiveram o mesmo resultado em um grande numero de pessoas. Assim, elas são usadas para tratar certas doenças, como resfriados.

Fica a critério do medico determinar o tratamento: o mesmo remédio pode ser usado para tratar doenças diferentes em pessoas diferentes. Ou, ao contrario, a mesma doença pode ser tratada com remédios diferentes em pessoas em pessoas diferentes.

Seja qual for sua opção de tratamento-com alopatia, homeopatia, antroposofia, fitoterapia, florais, acumputura etc. – o importante é que seja alinhado com seu estilo de vida e a sua filosofia. Também é bacana procurar mais de uma opinião, principalmente se estiver inseguro com o medico do seu filho.

NO PODIUM

A França é um dos principais países que utilizam a homeopatia: 80% da população se trata com essa especialidade. Lá ela é utilizada como uma opção terapêutica, ou seja, não é necessário fazer um curso de especialização de três anos, como no Brasil, para ser um medico homeopata.

“O pais europeu teve acesso à homeopatia antes que o Brasil, e lá o sistema de saúde funciona por reembolso, o que possibilita à população ter acesso”, explica Maria Isabel. “Por mais que as práticas integrativas tenham sido incluídas no SUS em 2006, são raros os postos de saúde que disponibilizam atendimento homeopático para a população e não são todas as pessoas que têm condições de arcar com as despesas de um plano de saúde”. Completa.

Consultoria

MARIA ISABEL DE ALMEIDA PRADO, mãe de Vivian e Verônica, é diretora farmacêutica do laboratório Boiron Brasil;

MÁRIO ANTONIO CABRAL RIBEIRO, pai de Uirá e Flora, é sócio-fundador da Associação Médica Homeopática de Minas Gerais;

MOISES CHENCINSKI, pai de Renato e Danilo, é pediatra homeopata, membro do Departamento de Pediatria AMbulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP);

SÉRGIO FURUTA, pai de Fernando e Gustavo, é pediatra e diretor da Associação Médica Homeopática Brasileira.