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A primeira escola

Do site e na Revista Pais e Filhos - Edição 451 e agora na 460 (com algumas mudanças)

Consultamos um supertime de educadores e elaboramos um teste para você comparar as instituições e tomar uma decisão baseada nos critérios mais importantes para a sua família

Por por Flavia Galembeck, mãe da Alice

Se você planeja ver seu filho na escola em 2008, preste atenção, porque o sinal já está tocando: agora em outubro começa a temporada das matrículas e, para garantir vaga, é bom começar a pesquisa. A escolha não é fácil meeesmo: há dezenas de opções pedagógicas, preços, promessas e possibilidades. Pior (ou melhor, até): não há somente uma resposta certa para cada questão. Para você ter menos trabalho na hora de decidir, a gente fez uma baita pesquisa, falamos com 18 especialistas, entre educadores, economista e pediatra. Todos concordam que, antes de começar as visitas, os pais devem fazer o dever de casa e definir o que esperam da instituição. 

Para a psicóloga, PhD em Educação pela University of Southern California e professora do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Unicamp, Evely Boruchovitch, mãe de Thiago e Lívia, a família deve refletir sobre os valores que quer passar aos filhos e buscar um estabelecimento em consonância com eles para que não haja atritos.

“Uma das primeiras questões é saber se família quer um ambiente rígido ou tolerante e, nesse cenário, qual a necessidade do filho”, diz Evely. Se você é mais liberal na educação, aquela escola conservadora não vai ser a melhor. O mesmo se você é do tipo tradicional e elege uma instituição alternativa. Pode parecer óbvio, mas é que a gente, às vezes, se encanta com tantas opções que acaba esquecendo do básico, sabe como?

Para a assessora psicopedagógica Franceli Catarina Almeida, do Colégio Marista Arquidiocesano, de São Paulo, mãe de Lucas, pesquisar muitas escolas é um caminho que ajuda os pais a definirem o que NÃO querem. “Não existe escola perfeita. Os pais devem pôr diversos pontos que julgam relevantes na balança e ver qual é a melhor opção para eles”, resume Evely, da Unicamp.

Comece pela sua casa

Antes de ir conhecer aquela escola fantástica do outro lado da cidade, comece a procura pela sua vizinhança, perto da sua casa ou do trabalho, ou no caminho entre ambos, o que ficar mais fácil para você, principalmente se morar numa cidade grande, em que o trânsito é complicado. “Perto de casa é melhor, pois preserva a criança, que não se estressará em congestionamentos. A partir de 3 anos, por exemplo, ela pode ir caminhando para a escola”, argumenta a profa. dra. da Faculdade de Educação da PUC-SP Neide de Aquino Noffis, mãe da Karen e Dênis. Às vezes, a opção que mais agrada é perto do trabalho. "Nesse caso, a mãe ou o pai assume para si o ônus de ter de sair no horário, mas, em compensação, tem a segurança de, a qualquer emergência, dar um pulo até a escola", lembra Neide.

No portão da escola

Depois dessa volta pelo bairro, já no portão da escola, um item deve ser analisado pelos pais: a segurança, que deve contar com ao menos um funcionário controlando entrada e saída de alunos, pais e visitantes. A jornalista Fátima Santos, que visitava instituições de ensino para matricular Vítor, então com quase 3 anos, levou um susto ao visitar uma escola e encontrar o portão e porta de acesso abertos e sem nenhum adulto por perto. "Não acreditei naquele portão escancarado nos dias de hoje. Fiquei pensando em que planeta vivem as pessoas que dirigem aquele estabelecimento", critica. 

Ao passar pela porta, começa o tour pelas dependências do colégio. Comece pelo básico: verifique se as instalações são adaptadas às necessidades das crianças. Anote suas impressões. As instalações devem ser limpas, arejadas e com espaços e materiais adequados à educação de crianças pequenas. Isso inclui móveis no tamanho certo, banheiros infantis, playground...

"Outro fator a ser analisado é se a rotina da escola é compatível com a do seu filho", aponta a coordenadora do serviço de orientação educacional do colégio Dante Alighieri, de São Paulo, Silvana Leporace, mãe de Fernanda e Fabiana.

Alguns fatores, claro, já tiram a escola do páreo rapidinho, não precisa nem pensar. "Se os pais verificarem falta de higiene e perigos iminentes, como escadas pontiagudas e sem proteção, janelas sem redes ou grades e adultos despreparados, devem riscar a instituição da lista", aconselha Neide, da PUC-SP.

Primeira conversa

Depois de conhecer as instalações, a coordenadora do local convida os pais para uma conversa em sua sala. É, então, hora de voltar a atenção para a proposta pedagógica da escola, como ela é aplicada no dia-a-dia e como se encaixa no modelo da família.

"Uma boa proposta pedagógica é aquela que consegue se pautar por uma perspectiva teórica clara, que está aberta às contribuições dos pais e alunos e, acima de tudo, está constantemente sendo avaliada e reformulada conforme as necessidades das crianças que estudam na escola", define a professora de Literatura Infantil do curso de Pedagogia da UFRGS, Gládis Kaercher, mãe de Beatriz e dos gêmeos Antônio e Bibiana. Ou seja: a escola tem de estar pronta para se atualizar, a aprender com os alunos também.

Os pais não devem se sentir acanhados em pedir a tradução do termo técnico ou a explicação de um conceito que não ficou claro. "Ajuda pedir ao coordenador exemplos concretos. Pergunte se a metodologia da escola é mais voltada à memorização ou a soluções de problemas", exemplifica Evely, da Unicamp. "Como a escola desenvolve as atividades, que materiais usa para estimular o aprendizado (livros didáticos, dança, música, brincadeiras no pátio, entre outros). Tudo ajuda a entender o pensamento da escola", sugere Neide.

Ou seja, pergunte, pergunte, pergunte. Até ter certeza de que entendeu. Tipo aluno mesmo. Eles são professores e estão mais que acostumados. E, se demonstrarem irritação, bom... descarte essa opção e siga em frente na sua lista. Você precisa se sentir à vontade com os profissionais da escola do seu filho. É o mínimo.

Credibilidade é básico

A resposta influenciará, ainda, em outro item, que é a credibilidade da escola. "Durante a própria visita você já consegue observar como é a relação da escola com outros pais, com as crianças e com os funcionários", opina Neide. O ponto de vista é compartilhado pelo Frei Jacir de Freitas Faria, diretor geral e pedagógico do Colégio Santo Antônio, de Belo Horizonte. "Visite a escola quando ela estiver funcionando. Leve uma lista de perguntas. Se for necessário, visite-a mais de uma vez", completa Evely.

Verificar se os coordenadores e o diretor da escola são professores formados é pré-requisito fundamental. Outro fator a ser considerado é a formação das pessoas que tomarão conta de seus filhos e se a instituição estimula e investe na continuidade da educação de seus colaboradores. "A evolução dos educadores também deve ser considerada", lembra Simone Aguiar Faria, mãe de Pedro, João e Tiago e professora do Colégio São Luís.

A orientadora do Colégio Salesiano Dom Bosco, de Porto Alegre, Maria Júlia Girardi almas, mãe de Bruna, lembra de um pequeno, mas não menos importante, item para a aprovação da escola: "Além do espaço físico, das condições, dos laboratórios, banheiros etc., a criança tem de ficar feliz no ambiente". Básico, básico, básico. Se você adorou a escola e a criança detestou, não vai dar certo.

Formação integral

"A melhor escola é aquela que se preocupa em desenvolver plenamente o aluno – não só o aspecto cognitivo, mas também o emocional e o social. A melhor escola também estimula a criança a falar e a lidar com seus problemas, ensina a ser cidadão", arremata Evely. A opinião é compartilhada pela educadora Acedriana Vicente Sandi, mãe de Pedro e Giulia, gerente pedagógica de Sistemas de Ensino da Editora Positivo, empresa do Grupo Positivo, que acrescenta ainda que "a escola deve equilibrar, da melhor forma, ações voltadas ao cuidar e ao educar." Eles são pequenos, precisam que a escola os acolha também, claro.

O coordenador pedagógico da escola paulistana Morumbi, Zecarlos Andrade, acredita que a escola perdeu a função do século 18 de ser uma mera transmissora de conhecimentos. "A escola atual ensina o aluno a selecionar respostas e buscar outras fontes de informação, a buscar por referências e, principalmente, ensina a convivência, a tolerância, a disciplina, enfim, a cidadania", defende. Se mesmo depois de tanta avaliação, a escola não corresponder às expectativas ou a criança não se adaptar, tudo bem. "Os pais precisam saber que, se a escola escolhida não for aquilo que esperaram, podem mudar", diz Neide, da PUC-SP.

A Idade Ideal

Não há consenso, a não ser de que esse é um assunto controverso. "A entrada sempre vai depender da necessidade da família", resume Evely. Para Neide, PUC-SP, se a mãe tiver uma boa estrutura, deve deixar em casa a criança até por volta dos oito meses. Caso contrário, é melhor deixa-la na escola. "Com 7,8 meses, a criança já engatinha e reage melhor ao estímulo."

"Acho que, antes dos três anos, a criança é muito pequena. Mas, do ponto de vista pedagógico, no entanto, não há problema que ela ingresse antes dos dois anos. Agora, se os pais não tiverem uma pessoa de confiança com quem deixar a criança, recomendo a escola como melhor opção", opina Evely.

"Não há uma idade certa. Uma média seria por volta dos dois anos. Mas, se houver necessidade de colocar uma criança na escola desde cedo, é melhor observar a reação dela. Como a capacidade imunológica, nessa idade, é mais baixa, caso apareçam, por exemplo, infecções respiratórias repetidas, busque outra solução e retire-a da escola. Antes de tomar qualquer decisão, os pais devem consultar o pediatra", recomenda o pediatra e homeopata Yechiel Moisés Chencinski, pai de Renato e Danilo.