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Vai começar a brincadeira

Da Revista Guia da Mamãe – nº 3 - ano 3 - outubro 2009

Pura diversão, o ato de brincar é um ótimo estímulo para o desenvolvimento motor e psíquico da criança

Por por Mirian Martinez

Não há nada mais animado para as crianças do que brincar! E, já que essa atividade não é nenhum esforço para elas, os pais devem aproveitar o momento de descontração para estimulá-las e, ao mesmo tempo, proporcionar um ótimo desenvolvimento para o filho.

Desde que os bebês nascem, estão aptos a descobrirem e aprenderem novidades do mundo ainda desconhecido; e é por meio das brincadeiras que tudo fica mais fácil para que seu desenvolvimento siga um caminho saudável, como explica o pediatra Túlio Konstantyner, de São Paulo, SP, e pesquisador do Projeto Crecheficiente: "ao brincar a criança não apenas se diverte, mas aprende, recria, interpreta e se relaciona com o novo habitat. Também desenvolve com maior facilidade aptidões físicas, mentais e emocionais, que, quando bem planejadas e aplicadas, auxiliam a criança a despertar seus talentos". Além disso, o especialista indica que as brincadeiras têm de ser apropriadas a cada etapa do desenvolvimento. 

A psicóloga paulista Denise H. M. P. Diniz, coordenadora do Núcleo de Qualidade de Vida e Saúde (Psiconsult), explica que até os três anos, as crianças brincam com elementos que pertencem ao seu mundo e fazem parte do seu dia-a-dia. "Por isso, conversar e dar vida aos seres inanimados são comuns nessa faixa etária, pois acreditam que os brinquedos existam de fato; pensam e possuem desejos e necessidades". Baseada em alguns estudos, a coordenadora confirma que após o nascimento o bebê já é sensível ao seu meio ambiente e suas percepções sensoriais respondem aos estímulos de olfato, paladar, som, tato e visão. 

Desta forma, a psicóloga indica brinquedos que as estimulem a aprenderem noções de tamanho, forma, som, textura e outros. 

Aconselha também a demonstração de afeto, interesse, desejo e participação dos pais durante as brincadeiras com o filho, já que a falta destes pode desestimular e, consequentemente, formar uma criança com maior dificuldade de relacionamento e entre outras potencialidades que talvez sejam aprendidas mais tarde. "Porém, podem acontecer casos de comprometimento de algumas áreas, sendo elas físicas ou psiquícas", declara Denise. 

De 0 a 2 meses

Como o bebê não consegue segurar objetos intencionalmente, só por reflexos, nessa fase é importante estimular os sentidos cantando, abraçando-o e acariciando-o. Exagere nas fisionomias, bem próximo ao rosto da criança, sempre demonstrando alegria e satisfação.

De 2 a 4 meses

Passado o estado de quase inércia para as primeiras reações intencionais, o bebê diverte-se quando é atraído por objetos chamativos e coloridos. Sendo assim, ofereça brinquedos com texturas e formatos de fácil manipulação, móbiles e itens que emitam sons, com guizos internos.

De 5 a 7 meses

A criança já consegue fixar o olhar por mais tempo em um objeto. Volta-se para a direção de onde vem o som e já começa a atender quando chamado pelo nome. O pequeno emite ruídos para chamar atenção. Tapetes de atividades com sons e espelho são bem-vindos, pois aqui o bebê já é capaz de se reconhecer.

De 8 a 10 meses

Como já consegue interagir com jogos simples e buscar objetos desejados, não se assusta mais com bichinhos de pelúcia e bonecos. Por isso, nesta fase ofereça estas opções, além de livrinhos de plástico para que o bebê possa brincar durante o banho e jogos de interação, do tipo "aperta um botão e emite um som".

De 11 meses a 12 meses

A linguagem está em pleno desenvolvimento e já a criança consegue concentrar-se por um pequeno período de tempo ouvindo uma história. Repete tudo o que escuta. Diverte-se em reproduzir as palavras que aprendeu com o telefone ao ouvido. Quando consegue se equilibrar, a bola também é um brinquedo inseparável. Apresente livros com pouco texto e figuras grandes, que retratem o seu dia-a-dia: mamãe, papai, carro, mamadeira... Telefone de brinquedo, bola e bonecos. Se a criança já estiver engatinhando ou andando, providencie itens que ela consiga puxar e empurrar. Trenzinhos e carrinhos de boneca são ótimas opções.

De 1 ano a 1 ano e 6 meses

Adora brincar de espalhar e guardar tudo ao seu modo. Nesta fase, é interessante disponibilizar caixas com formas geométricas para que ela encaixe cubos, círculos e triângulos. Potes, tampas e panelinhas também a divertirão. 

De 1 ano e meio a 2 anos

Como a criança conhece algumas cores e formas e sabe procurar e encontrar objetos que guardou, gosta de brinquedos que possa empurrar, puxar, encaixar e explorar com os dedos.
Desta forma, brinquedos de desmontar e montar, bichinhos de plástico, cubos com formas vazadas para encaixar e chaves que abrem e fecham portinhas são ótimas opções para as crianças explorarem esse lado desbravador.

Evite

Denise alerta sobre algumas brincadeiras e objetos que devem ser evitados na hora da descontração: "tome cuidado com qualquer atividade que de certa forma possa agredir ou invadir o físico e o psicológico da criança. Respeite suas fases de conhecimento e aptidões, entendendo que brincadeiras possuem como função o crescimento e o desenvolvimento global do bebê. Sendo assim, a criança tem o direito de expressar interesse e escolha na continuidade de cada brincadeira, da maneira que lhe for possível, ou seja, de forma verbal ou não, mas, mostrar-se interessada, alegre e participativa".

O pediatra Konstantyner coloca em questão a conhecida brincadeira de jogar o bebê para cima, que, apesar de parecer saudável e apresentar a costumeira alegria manifestada pelos pequenos, não é uma atividade recomendável, devido ao risco de queda e traumas resultante do processo de aceleração e desaceleração proporcionado pelos movimentos realizados. 

Portanto, evite esta e outras brincadeiras que acarretam maior potencial de risco de acidentes, "como atividades com fogo, água em excesso, cordas, fios, sacolas de plástico, objetos pequenos, vidro e objetos pontiagudos ou cortantes, que oferecem perigo à criança ocasionando traumas na boca, narinas e ouvidos", recomenda o pesquisador.

Presenteie sem erro

Antes de comprar um brinquedo para uma criança, primeiramente leve em consideração idade, habilidades e interesses. A segurança e a facilidade de conservação também devem ser levados em conta. "E depois de tudo isso, talvez, você chegue perto do ideal!", exclama o pediatra Chencinski, que explica que, além desses requisitos básicos, é preciso estar atento se o brinquedo contém o selo de garantia do fabricante e do Inmetro. "Infelizmente, nem todos os brinquedos à disposição no mercado possuem o selo de avaliação do órgão. Aliás, muitas vezes as pessoas são atraídas pela beleza, praticidade e custo do produto, não pensando na segurança na hora da compra", critica o especialista.

A lista de "detalhes" não é pequena para comprar um brinquedo, mas, além das recomendações citadas acima, tome cuidado com brinquedos que apresentam bordas cortantes, pontas afiadas, peças pequenas, ruídos muito altos, fora dos padrões, pouca resistência, cheiro e pintura tóxica e, etc. Chencinski acredita que vale a pena conhecer o site do Inmetro, onde é possível procurar e ver os produtos analisados pelo órgão que foram aprovados e reprovados. "Lá são realizadas avaliações que atestam qualidade e segurança do brinquedo, como composição química, barulho e resistência."

Gastando pouco

Para Denise, o que mais ajuda a criança a se desenvolver e crescer não é um brinquedo caro com a embalagem mais bonita ou com a maior caixa, mas, produtos que interessam e estimulam as necessidades de cada etapa da infância.

"Estar com seu filho, brincar e criar juntos, até mesmo com sucatas, por exemplo, uma caixa de papelão se transformando em um material colorido, podem ser incentivos diferentes e acertados para que ele possa desenvolver sua coordenação motora, afetiva, auditiva, postural e o comportamento social. Cada brincadeira pode estimulá-lo a explorar um mundo diferente. E tendo os pais como companhia, não há nada melhor, já que o afeto, o interesse e a participação não custam nada!", incentiva.

Mito ou verdade?

Antigamente, era muito comum escutarmos histórias relacionadas aos móbiles de berço e o possível estrabismo do nenê. 

Para o homeopata, isso é um dos mitos que de tanto escutar criaram-se falsas afirmações. "Fixar os olhos em um objeto, no caso o móbile, jogar o bebê para cima ou se ventar enquanto alguém se faz de vesgo, não causam estrabismo", desmistifica Chencinski. 

Segundo Denise, os móbiles colaboram para as capacidades visuais da criança. No entanto, apenas um mesmo móbile colocado por longo tempo diante do bebê, em distância que não permita a observação de outros estímulos, naturalmente pode não colaborar para a percepção de profundidade e disparidade binocular dele.