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20 dicas para amamentar com sucesso

Da Revista Crescer - edição - nº 222 - maio/2012 - pgs. 62 a 66 (no site está na Área exclusiva para assinantes)

Tudo o que você precisa saber desde a gravidez, para ter uma amamentaçao tranquila e aproveitar esse momento tão especial- e como driblar os principais problemas.

Por Por Manuela Aquino

Lisa Spindler Photography Inc/gettyimages

"Amamentar é PURO instinto". Você vai ouvir essa frase muitas vezes quando estiver grávida, e mais ainda quando seu bebê nascer. É quase tão absurdo quanto dizer que toda mulher nasceu para ser mãe. Vamos combinar,não é bem assim. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) do ano passado mostram que, no Brasil, apenas 41% das crianças recebem aleitamento materno nos Primeiro seis meses, números que acompanham uma tendência mundial. Amamentar está longe de ser algo simples. E a própria OMS reconhece: é preciso aprender. "As mulheres que recebem algum tipo de orientação durante o pré-natal amamentam duas vezes mais que as que não recebem", afirma Fernanda Cristina Mikami, médica-assistente de obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Quanto mais você estiver informada, se preparar (os cuidados começam na gestação) e souber lidar com desafios que podem acontecer nas primeiras semanas, mais segurança vai sentir e melhor será a sua adaptação também – ainda que alguns problemas possam surgir, como aconteceu com a atriz Luana Piovani, mãe de primeira viagem de Dom. Ela foi sincera e postou no twitter em março, poucos dias após dar á luz: "Amamentar dói muuuuito! Só registrando...". Mas a importância do seu leite é indiscutível: pesquisas mostram cada vez mais benefícios, como proteção contra câncer de mama na mãe e aumento de QI no bebê. Por isso,preparamos um guia com tudo que você precisa saber - e mostramos também o que fazer se a situação se complicar.

1- Converse (muito) com seu obstetra

É bem provável que esse papo aconteça no começo do segundo trimestre. Pergunte tudo, mesmo aquilo que você acha que pode ser bobagem, como "meu seio vai cair"? Vale lembrar que, se a sua mãe ou irmã, teve dificuldades para amamentar, mas nenhum problema fisiológico foi diagnosticado, como no bico do seio, você não corre nenhum risco a mais de passar pela mesma situação.

2- Descubra qual é seu tipo de bico

Oi? Você não entendeu errado, não. Entre as muitas coisas que você vai descobrir durante a gestação, o tipo de bico do seio é uma dessas – e isso pode interferir na amamentação. Basicamente, há quatro tipos. O tradicional, considerado ideal para o bebê abocanhar e sugar o leite. Está para fora e enrijece durante a amamentação. Há também o curto, que lembra o tradicional, mas é menor. E, por fim, o plano e o invertido. O primeiro, como o nome diz, não sobressai e dificulta a pega da criança na hora de mamar. O segundo lembra um umbigo voltado para dentro e pode aparecer em três níveis de intensidade.

Os de graus um e dois se projetam para a fora com a manipulação. Já o de grau três pode ser corrido com os chamados exercícios de Hoffman (movimentos nas mamas feitos com as pontas dos dedos em direção ao bico na gestação). A quantidade de vezes por dia e o período devem ser orientados pelo médico, pois a estimulação do seio libera ocitocina, e isso, no final da gravidez, pode levar a contrações e adiantar o parto. Existem ainda outras duas opções. A concha preparatória, usada entre o sutiã e o seio que faz uma leve pressão para o bico sair. Use- a pelo menos duas horas por dia desde a gravidez. Já o corretor de mamilo funciona como uma bomba que "suga" o bico, mas o manuseio é simples e indolor. Use-o por duas horas não consecutivas todos os dias. Se quando o bebê nascer o problema persistir, utilize-o antes das mamadas.

3- Prepare as mamas

Esqueça aquela história de usar bucha vegeta no futuro. O único método que funciona é tomar sol na região, todos os dias, antes das dez da manhã e depois de quatro da tarde, por volta de 20 minutos (não passe protetor solar nos mamilos). Os raios solares aumentam a produção de melanina, uma proteína responsável pela cor da pele e que também tem a função de protegê-la. Se não for possível, faça um sol artificial em casa com uma lâmpada fluorescente. Aproxime-a dos seios, a uma distância de dez centímetros, pelo mesmo tempo.

4- Não exagere na limpeza durante o banho

A higiene com água e sabonete neutro é suficiente. Use o produto na região uma vez por dia para não ressecar e evitar rachaduras- se tomar mais de um banho por dia, deixe apenas a água escorrer. Se sentir que os seios estão com um resquício de leite, passe um algodão embebido em água morna. Cremes hidratantes e óleos corporais podem ser usados na pele do seio, mas jamais no mamilo.

5- Acerte na "pega"

Mais uma palavra que vai entrar para seu vocabulário. Quer dizer como seu filho deve abocanhar o seio. A boca do bebê deve pegar toda aréola, até os mamilos, que devem se posicionar no céu da boca. Você pode ajudar a sustentar a mama segurando a com a mão em forma de concha (fazendo um C, com o polegar acima da aréola e indicador abaixo dela). Os lábios da criança devem ficar virados para fora. Observe também a sucção.

Se houver barulhinho durante a mamada é porque está entrando ar, e a pressão da boca no seio não será suficiente para extrair o leite. Esse processo estimula a produção do hormônio ocitocina, que ajuda na "descida" e na produção do leite. A mesma substância causa, ainda, contrações uterinas, o que faz com que o útero volte ao tamanho normal. Se o peito estiver muito cheio, talvez o bebê não consiga abocanha-lo. Nesse caso, basta retirar um pouco de leite antes de amamentar. E não esqueça: antes dele fazer a pega, limpe os seios com algodão e água. Se não estiver em casa, passe um pouco do leite no bico.

6- Faça um curso de gestante

Vai ser mais uma oportunidade de para falar sobre amamentação, cuidados com os seios etc., e uma chance para você esclarecer as dúvidas que ainda ficaram e compartilhar seus anseios com outras grávidas. Veja no destaque abaixo o curso de gestante online - e grátis! - que preparamos para você.

7- Compre sutiãs de amamentação

Não deixe de fora sua mala da maternidade. Devem ter abertura frontal, alças largas e ser confortáveis (já existem modelos mais divertidos que fogem do branco e do bege!). Compre ao menos um número maior. Afinal, seus seios vão ficar maiores quando começar a amamentar. Se for usar absorvente ou concha, opte pelos modelos sem bojo ou casca (os mais maleáveis ajudam a disfarçar esses apetrechos). O ideal é que você tenha pelos menos três.

8- O tipo de parto influencia pouco

OMS recomenda que a amamentação na primeira hora de vida do bebê. Mas isso nem sempre é possível, principalmente se o parto for uma cesárea eletiva (ou seja, quando a gestante não entra em trabalho de parto). Na cesárea, a ação dos hormônios é menos intensa do que no parto normal, o que pode prejudicar a "descida" do leite. Em alguns casos mais raros, o obstetra vai indicar a administração de ocitocina sintética. O importante é insistir: algumas horas ou dias de ”atraso” não vão prejudicar o sucesso do aleitamento do seu filho.

9- Aprender a posicionar o bebê

São três posições. A "barriga com barriga" que, que como o nome diz, é aquela em que todo o corpo da criança fica voltado para a mãe, e o rosto, de frente para o seio. O "cavalinho", recomendado para prematuros ou recém-nascidos com refluxo, é quando o bebê fica encaixado, como se estivesse sentado, na perna da mãe – não funciona para quem tem mamas volumosas. A última, a invertida, é usada geralmente por mães de gêmeos. Nela, a criança fica debaixo do braço e tem um travesseiro de apoio para o corpo. "Mães que fizeram cesariana podem usar esta posição caso sintam dores na região abdominal nos primeiros dias", diz Ana Cristina Abrão, diretora do grupo de incentivo ao aleitamento Materno da Unifesp.

10- Delete os milhões de conselhos

Segure o bebê assim, coma isso para fortalecer o leite, faça aquilo e não terá rachaduras nos seios. Se você for seguir cada uma das dicas que ouvir, vai enlouquecer. E o estresse interfere na produção de leite. Na dúvida, fale com o obstetra ou com o pediatra. Mas uma dica vale considerar: descanse sempre que puder.

11- Converse com as enfermeiras

Você pode até estar superinformada, mas não deixe de tiras as últimas dúvidas com as enfermeiras quando seu bebê nascer. Não economize nas perguntas: elas estão preparadas para isso.

12- Não agende horário para dar de mamar

A amamentação deve acontecer sempre que seu filho estiver com fome. É o que os médicos chamam de livre demanda. Um estudo do Instituto de Pesquisas Sociais e Econômicas da Universidade de Essex, na Inglaterra, mostrou que os bebês alimentados toda vez que tinham vontade de se saíram melhor em provas escolares, incluindo testes de QI. O recém-nascido leva, em média, 40 minutos para mamar. Com o passar dos meses, o período entre cada mamada vai aumentando e, assim, vocês conseguem se organizar melhor.

13- Dê um peito a cada mamada

O leite que sai no final é rico em gorduras e, portanto, fundamental para a criança ganhar peso. Para não esquecer qual foi o último seio que você deu, use sutiãs com marcadores ou anote. Se tiver um smartphone, baixe aplicativos como o Breastfeeding Management e o Baby Nursing/Breast Feeding Tracker (para iPhone) e o Breast Feeding Tabulator (para Android). Neles, há ferramentas que marcam o número, a duração e o intervalo entre as mamadas.

14- Prepare-se para as mamadas noturnas

Nos primeiros dois ou três meses, os médicos recomendam que o bebê seja acordado durante a noite para mamar, caso não desperte sozinho. O mesmo vale para o restante do dia – a criança não pode ficar mais de quatro horas sem se alimentar. Depois, o pediatra avalia cada caso. Uma boa poltrona de amamentação é útil, mas não imprescindível. No dia a dia, você vai amamentar no seu quarto, na sala, na casa dos outros e até em público (por que não?), como você vai ver em seguida

15- Tudo bem amamentar em público

Isso vai acontecer, de cara, na maternidade. E, depois você vai querer passear com seu filho, participar das comemorações e também levá-lo ao pediatra ou ao posto de saúde para vaciná-lo. Se deixar o seio à mostra está fora de cogitação, vale cobri-lo com uma fralda de pano ou então comprar uma capa de amamentação, vendida em lojas especializadas para gestantes. O acessório vem com um prendedor, que fica ao redor do seu pescoço - e aí não precisa se preocupar se o pano vai cair. Ao sair, prefira roupas que facilitem o processo, como camisas ou blusas e vestidos cachecour.

16- Cuide da alimentação

Sim, ela é importante durante a amamentação também, porque os nutrientes que você consome (assim como os seus anticorpos) passam pelo leite para o bebê. Tanto que uma pesquisa feita pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro com ratos mostrou o que pode acontecer quando a mãe tem uma alimentação rica em gorduras: as taxas de triglicérides dos filhotes aumentaram e pior, os níveis de HDL (o colesterol bom) diminuíram. Não há estudos que relacionem a alimentação da mãe às cólicas do recém-nascido. Até mesmo a cafeína pode ser consumida com moderação, de acordo com estudo recente da Universidade Federal de Pelotas, publicado na revista Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria. Os pesquisadores concluíram que uma xícara de café ao dia (ou seja, 200 miligramas de cafeína) não interfere no sono dos bebês.

17- O seu leite é forte acredite

Não existe leite fraco - até o das mães desnutridas é rico. O que pode acontecer é você ter mais ou menos leite. Para garantir uma quantidade abundante, beba muito líquido (saiba os mais indicados no item a seguir). A sucção estimula a produção do leite: quanto mais o bebê mamar, mais você vai produzir. Por último, nenhum alimento aumenta ou melhora a qualidade do leite, ao contrário do que diz a sabedoria popular.

18- Tenha uma moringa sempre por perto

Vale água, suco, chás (sem cafeína) e até sopas. O importante é hidratar o organismo o dia inteiro. Caso você sinta que o leite está "secando", certifique-se de que o bebê esta sugando corretamente. Evite o uso de mamadeiras, porque elas dificultam a readaptação ao bico do seio.

19- Amamentando gêmeos

O aleitamento de gêmeos pode ser feito separadamente ou ao mesmo tempo. As dificuldades estão em organizar as mamadas (lembrar quem mamou por último, por exemplo) e encontrar as posições adequadas. Uma das maneiras de segurá-los ao mesmo tempo é colocar dois travesseiros sobre o colo e posicionar os bebês virados para lados opostos, com as cabecinha próximas. Evite escolher um peito para cada criança. Aos poucos a mãe vai descobrir, junto com os bebês, a melhor forma de amamentá-los.

20- O segredo é ser paciente

A amamentação pode ser aprendida, agora você já sabe, e existe solução para a maioria dos obstáculos. Troque experiências com outras mães, consulte a CRESCER, seja perseverante. Vai valer a pena, garantimos.

E SE...

. . . O PEITO RACHAR
Se a pega for feita de maneira errada, pode machucar a fissura a região (ui!). O médico pode indicar uma pomada à base de lanolina para tratar e para que você continue amamentando.

. . .ELE SÓ MAMA EM UM DOS SEIOS
Não há motivos médicos para isso. O que pode estar acontecendo é que você segura o bebê melhor de um lado ou o posiciona melhor com um dos braços. Preste atenção na próxima vez.

. . . O LEITE EMPEDRAR
Isso se chama mastite. Acontece porque a mama não está esvaziando direito, pois o bebê não mama o suficiente ou porque se produz muito leite. Massageie os seios antes e durante o aleitamento com movimentos leves, com as pontas dos dedos em direção ao bico. Além disso, ordenhe um pouco antes da mamada para retirar o excesso. Se o seio estiver duro, tire sua temperatura. Se for maior que 37,8º C, procure o seu médico ou um posto de saúde para fazer uma avaliação.

Fontes

- Alfonso Massaguer, ginecologista e obstetra da clínica Medicina e Acompanhamento Especializado para saúde da mulher (SP);

- Ana Cristina Abrão, diretora do Grupo de Incentivo ao Aleitamento Materno, da Unifesp;

- Bárbara Muray médica ginecologista e obstetra, diretora da Clínica Gergin (SP);

- Fernanda Cristina Ferreira Mikami, médica-assistente da Disciplina de Obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP;

- Márcia Regina Silva, enfermeira e coordenadora do curso para gestantes e do Grupo de Apoio ao Aleitamento Maternodo Hospital São Luiz(SP);

- Moisés Chencinski, pediatra e homeopata;

- Natália Turano Monteiro, enfermeira especializada em aleitamento do Hospital Albert Einstein (SP)

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