Do site da Crescer
"Que mês repleto de reflexões, ações, viagens, conversas, trocas. Foi o Agosto Dourado mais intenso e mais impactante para mim, desde que iniciei meu caminho no 'ativismo' pela amamentação", diz o pediatra e colunista da CRESCER
por Dr. Moises Chencinski - colunista
02/09/2025
Sim. Esse vai ser mais um texto sobre aleitamento materno, mas muito pessoal. Tive uma jornada plena. Estou feliz. Cansado, mas de coração quentinho por ter sido lembrado, pelo carinho com que fui recebido por onde passei, pela responsabilidade da mensagem, pelas pessoas com quem compartilhei a viagem.
Isso também é consequência de uma frase que eu repito muito, quando a proposta é falar sobre amamentação: Eu sou facinho. É só me chamar, combinar com antecedência que eu vou mesmo. E vou o ano todo. E gosto muito disso. E me preparo muito para levar informação ética, sem conflitos de interesses, atualizada, de uma forma leve, até divertida, algumas vezes irônica, beirando o sarcasmo, mas, sempre, intensamente provocativa.
Sinto que, mais uma vez, me fiz feliz e acho (espero que) consegui compartilhar essa minha emoção e a comunicação com muita gente, em muitos lugares do país.
“Repara nas coisas que fazes bem, por mais pequenas que sejam”.
Recebi essa frase hoje de algumas fontes (dicas de ações para felicidade) e ela pode representar esse meu mês de agosto de 2.025 e tudo o que ele me trouxe de pensamentos a respeito de estratégias para contribuir com as mães que desejam amamentar e com os profissionais de saúde materno-infantil que podem definir o destino da díade mãe-bebê nessa trajetória, mesmo que consciente de todas as minhas limitações.
Sempre lembrando:
O protagonismo da amamentação é da mãe e de sua cria.
E nunca esquecendo que:
Se uma mãe que queria amamentar não conseguiu atingir seus objetivos, a responsabilidade é de cada um e de todos nós, que não fizemos a nossa parte de forma adequada, suficiente, coordenada, eficiente para que isso acontecesse.
Relatório de viagem
Essa foi a 34ª Semana Mundial de Aleitamento Materno (1 a 7 de agosto).
Essa foi a 1ª Semana de Apoio à Amamentação Indígena (8 a 14 de agosto).
Essa foi a 6ª Semana de Apoio à Amamentação Negra (25 a 31 de agosto).
Esse foi o 9º Agosto Dourado (1 a 31 de agosto, que tem só no Brasil desde 2017).
Que mês repleto de reflexões, ações, viagens, conversas, trocas. Foi o Agosto Dourado mais intenso e mais impactante para mim, desde que iniciei meu caminho no “ativismo” pela amamentação.
Foram 25 horas, falando em 26 atividades pelo Brasil, durante esse mês.
Foram 10 no Estado de São Paulo (Tatuapé, São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo, Santo André, Diadema, Mogi das Cruzes, Cotia, Botucatu, Piracicaba, Taubaté) e 5 capitais no Brasil (Campo Grande, Brasília, Fortaleza, Aracaju e Belo Horizonte).
Viajei 1.390 km de carro (25 horas) e 12.580 km de avião (19 horas).
Ainda participei de 4 horas de lives, Webinários (online).
Agradeço a compreensão das famílias que acompanho profissionalmente, que compreenderam a relevância dessas ações para mim e, nos (poucos) períodos em que estive em São Paulo, foram tão queridos em suas visitas e atendimentos no consultório.
Outro agradecimento muito especial à família (Janice, parceira de vida - Renato e Danilo – filhos amados, Iasmin e Bruna – noras especiais – representando o todo) e amigos que são eternos suportes para que eu possa me dedicar ao que acredito, de corpo e emoção.
Dito isso... a realidade ainda esmaga
E o aleitamento materno? Em agosto ele se transforma no ator principal de políticas públicas, da sociedade, dos profissionais, da economia, da educação, da informação, das redes sociais, dos profissionais... Aí vem setembro...
E, mais uma vez:
- As ações acontecem sem escuta ativa de quem precisa ser consultado: AS MÃES.
- Somos todos (ou quase todos, vai) com propostas em prol do que julgamos ser o melhor para AS MÃES (sem perguntar de fato para AS MÃES).
- Os dados mostram que no Brasil (porque é aqui que eu ainda acho que podemos e devemos atuar) amamentar ainda sofre recortes importantes de raça, de gênero, de classes sociais, do despreparo no acolhimento e na visibilização dos 37% de mulheres que trabalham no setor informal, de locais de trabalho sem equidade salarial (apesar das leis, ora as leis), sem suporte adequado à amamentação (salas de apoio, horários flexíveis).
- Com a mesma, eterna, “justificativa” (desculpa) de que o Brasil é um país de dimensões continentais, há uma discrepância enorme entre os investimentos (tempo, dinheiro), de propostas e ações em prol do aleitamento materno e das MÃES, em cada região.
Precisamos de conscientização, de EDUCAÇÃO, desde a infância até as universidades (mais ENSINO sobre aleitamento materno), mas não apenas no agosto dourado. Já há tempos que, até de uma forma leve, meio que divertida, mas com fundo bem sério, eu tenho algumas sugestões que reforcei em 2.025:
- O ANO DOURADO da amamentação. Ele poderia começar em 1º de setembro e ir até 31 de julho do ano seguinte. Teríamos o primeiro e daí pra frente, como começou o AGOSTO DOURADO, ano a ano, abordagem constante sobre o tema. Muitos de nós já temos essa prática em nosso dia a dia. Mas é necessário oficializar, para todo o país, para todas as pessoas.
- A BOLSA-TETÊ para que mães do trabalho informal possam sonhar com a possibilidade de amamentar seus filhos de forma exclusiva por mais tempo, trazendo a eles todos os benefícios que apontamos diariamente sobre todas as vantagens do aleitamento materno. Será que todas essas informações que trazemos a elas sobre o tema provocam mais conhecimento ou mais tristeza? Mostramos os benefícios e não conseguimos trazer condições a elas para que seus bebês possam ter sua saúde favorecida. E nem preciso reforçar o recorte racial de quem é mais prejudicado, não é?
Essas são só duas ideias que comprovam: preciso continuar na Pediatria porque como político, minhas chances são beeeeeeemmmmmm remotas (e não que eu quisesse, mas sempre estou disposto a colaborar).
Termino essa minha reflexão / relatório / proposta com frases atribuídas a Luis Fernando Veríssimo que continuará sempre entre nós através de tudo o que ele representa para a CULTURA desse país. Muita sabedoria irônica (sarcástica, às vezes – gosto muito).
“O mundo não é ruim, só está mal frequentado”
(Essa foi a abertura de muitas das minhas participações desse mês – imagina o resto?).
“Você só sabe até onde pode ir quando já foi”.
“Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido”.
E, talvez, a que me move a continuar estudando, investindo na comunicação, aprendendo dia após dia:
"Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.”
Por aqui, AGOSTO DOURADO não acabou. Só mudou de nome. Que venham SETEMBRO, OUTUBRO e todos os outros, SEMPRE DOURADOS.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545