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Como doar leite materno e ajudar outros bebês? Médico tira dúvidas

Do UNIVERSA - UOL - Materna

O leite materno é considerado o padrão-ouro da alimentação infantil e, para muitos, representa a vida.

Por Bárbara Therrie

03/08/2025

No caso de bebês prematuros internados em UTIs que não podem ser amamentados pelas próprias mães ou que recebem uma quantidade insuficiente de leite, a doação de leite materno não é apenas nutrição, mas é um gesto que traz esperança.

Apesar da sua importância, muitas dúvidas ainda cercam o universo da doação de leite. Quem pode doar? Como funciona o processo? Quais os benefícios para quem doa e para quem recebe?

O pediatra Moises Chencinski, membro da Rede IBFAN (Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar) Brasil e membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo, tira as dez maiores dúvidas sobre o assunto.


1 - Quem pode doar leite materno?

A princípio qualquer mulher que esteja na fase de lactação, com saúde e sem uso de medicamentos que possam interferir na amamentação, pode doar o seu leite. Ainda que a lactante suspenda temporariamente a oferta direta (do seio) ao seu lactente, ela pode continuar sendo doadora.

De acordo com as recomendações da RDC Nº 918 (19/09/2024), a doadora não deve consumir álcool, drogas ilícitas e não deve ultrapassar a quantidade de 10 cigarros ao dia.

Além disso, ela deve apresentar exames pré ou pós-natal compatíveis com a doação de LH ou realizar exames (como hemograma completo, teste de sífilis, anti-HIV, entre outros) quando o cartão de pré-natal não estiver disponível ou ela não tiver realizado pré-natal.

2 - Como se tornar uma doadora de leite materno?

O primeiro passo é entrar em contato com um banco de leite humano (BLH) para receber orientações, passar por uma triagem, fazer um cadastro e apresentar exames pré ou pós-natais que mostrem que não há nenhum impedimento de saúde para a doação.

Alguns bancos de leite vão até a residência das doadoras, orientam o processo (extração e armazenamento), disponibilizam o material necessário (como frasco de vidro com tampa de plástico) e até recolhem, periodicamente, o leite extraído e armazenado.

Em outras situações é necessário que a doadora vá até o BLH com o seu leite extraído, armazenado e transportado de forma adequada.

3 - Como é feita a extração de leite para doação?

Antes da coleta

A extração de leite deve ser realizada em ambientes com condições higiênico-sanitárias satisfatórias e longe de animais, visando minimizar os possíveis riscos de contaminação. Em qualquer coleta, os materiais utilizados, como bombas, acopladores e frascos de vidro) devem ser esterilizados, antes e depois do procedimento.

Outros cuidados incluem lavar bem as mãos e antebraços com água e sabão, enxugar com uma toalha limpa, prender os cabelos, usar touca, máscara, e evitar o uso de perfumes, cremes ou qualquer cosmético que possa exalar cheiro.

Extração

A extração deve ocorrer depois de o bebê mamar ou quando as mamas estiverem muito cheias. Ela pode ser feita de forma manual ou mecânica, com auxílio de bombas de sucção manual ou elétrica.

Primeiro: para a extração manual é fazer uma massagem da base da mama em direção ao mamilo com movimentos circulares e estímulos suaves dos mamilos (puxar suavemente ou rodar entre os dedos).

Depois, é preciso posicionar os dedos nas bordas da aréola (polegar sobre a mama, onde termina a aréola e os outros dedos abaixo, na borda). Comprimir a aréola e mama contra as costelas (empurrar para trás), através dos dedos polegar e indicador, apertar e soltar, posicionando o vidro abaixo do mamilo.

Os primeiros jatos do leite devem ser desprezados para eliminar possíveis microrganismos, contribuindo para a redução de até 90% da população inicial de bactérias, pela ação física de arraste. Em caso de ordenha/extração manual, repetir o movimento de forma rítmica, rodando a posição dos dedos ao redor da aréola para esvaziar todas as áreas.

Para as doadoras que farão a extração com bomba elétrica, deve-se iniciar a sucção da bomba elétrica sob baixa pressão e ir aumentando gradativamente, se necessário. Uma dica é alternar as mamas, reiniciando o processo com massagem, a cada cinco minutos ou quando o fluxo de saída diminuir.

A lactante deve deixar um espaço de 1 cm entre o leite e a borda superior do frasco para que ele não quebre ao congelar. Ao final do processo, ela deve fechar e rotular o frasco (colocar o nome e a data em que retirou o leite pela primeira vez) e armazenar imediatamente.

Vale ressaltar que a extração de leite não deve doer. Se isso ocorrer, o processo precisa ser reavaliado.

4 - O leite extraído com bombinha muda os benefícios ou perde os nutrientes?

Não. Ao seguir rigorosamente as recomendações de higiene e cuidados, o leite extraído trará os mesmos benefícios e a mesma composição nutricional independentemente da técnica utilizada.

5 - Quanto tempo o leite pode ficar armazenado?

O leite materno pode ficar na geladeira por 12 horas e ser congelado por 15 dias (no freezer ou congelador), a partir da data da primeira coleta. Caso o frasco não tenha sido preenchido em uma única extração, a doadora deve colocar o leite extraído em outro recipiente esterilizado e, ao terminar, acrescentar este leite no frasco que já está congelado. Recomenda-se que o leite doado seja entregue ou recolhido pelo banco de leite em até dez dias após a coleta.

6 - O leite pode estragar se não for armazenado corretamente?

Sim, caso o leite doado não receba os cuidados adequados em todas as etapas, ele pode ser contaminado por microrganismos e, consequentemente, descartado para consumo. Ao chegar no banco de leite, o leite doado é pasteurizado, o que aumenta a sua proteção.

7 - O leite pode ser esquentado no microondas?

Não. O leite materno congelado não deve ser fervido e nem aquecido em microondas, pois esse tipo de aquecimento pode destruir os fatores nutricionais e de proteção.

Para descongelar, deve-se retirar o frasco do congelador ou do freezer, aquecê-lo em banho-maria, em água quente, com o fogo apagado. Recomenda-se agitar o frasco devagar até que não haja mais nenhum gelo.

Atenção: o leite descongelado não consumido não deve ser recongelado e deve ser descartado após 12 horas.

8 - A doação de leite materno pode afetar a produção da doadora? Existe o risco de ela produzir menos leite para o seu próprio bebê?

A doação de leite não implica em menor produção. Pelo contrário: quanto maior o estímulo e a necessidade, fisiologicamente, maior será a produção de leite.

A doação de leite materno pode ser recomendada quando a mãe já estabeleceu uma produção regular e tem excedente após suprir as necessidades do seu próprio filho, que sempre será prioridade.

9 - Quem receberá o leite doado?

Após receber o leite doado, o banco de leite fará uma análise das características químicas, físico-químicas, imunológicas e microbiológicas do leite. Após aprovação, ele será destinado a recém-nascido (RN) prematuro ou de baixo peso que não suga, RN infectado, especialmente com enteroinfecções, RN em nutrição trófica; RN portador de imunodeficiência ou portador de alergia a proteínas heterológas e casos excepcionais.

10 - Quais os benefícios do leite materno?

O leite materno favorece o desenvolvimento e a maturação digestiva e imunológica dos RN e reduz complicações relacionadas ao nascimento prematuro, como inflamação e necrose do intestino, distúrbios oculares e pulmonares e sepse (complicação grave decorrente de infecção) tardia, que acomete principalmente os prematuros internados em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal.

Além disso, o leite materno previne doenças infectocontagiosas, alérgicas, diarreias, diminui o risco de doenças crônicas na vida adulta, como obesidade e hipertensão, entre outros benefícios.

Para a lactante, há uma redução significativa e cumulativa de câncer de mama (quanto mais tempo de amamentação, considerando todas as gestações, maior a proteção), de ovário, além de menor risco de hipertensão, depressão pós-parto e diabetes, entre outros.

IMPORTANTÍSSIMO: Referências consultadas

RDC Nº 918, de 19 DE SETEMBRO DE 2024

Normas Técnicas - BLH-IFF/NT 16.21 - Ordenha de Leite Humano: Procedimentos Higiênicos Sanitários

Normas Técnicas - BLH-IFF/NT 18.21 - Pré-Estocagem do Leite Humano Ordenhado Cru

Rede BLH

Ministério da Saúde

Aleitamento Materno na Era Moderna - Vencendo Desafios.
Serie Atualizações Pediátricas - 2021 - Editora Atheneu.
Do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SPSP
Coordenador: Dr. Yechiel Moises Chencinski

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545