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Perturbação na amamentação: o que é e o que fazer?

Do site da Crescer

Aflição, irritabilidade e extremo desconforto ao amamentar: entenda quais podem ser as causas dessas sensações

Por Carla Leonardi

13/04/2024

Você já ouviu falar em perturbação na amamentação? Embora não seja tão conhecida popularmente, a condição afeta um grande número de lactantes e torna o aleitamento um momento de aflição para a mãe. “Ela pode ser entendida como uma sensação de desconforto, agitação e até de aversão à sucção do bebê”, explica o pediatra Moises Chencinski, destacando a evidente tensão da mulher ao amamentar. Trata-se, vale ressaltar, de uma questão fisiológica, embora possa ter consequências de ordem emocional.

Segundo o médico, é importante que a mamada seja observada ainda na maternidade e, posteriormente, nas consultas com o pediatra, justamente para que, se o problema existir, seja identificado e que a mulher receba as orientações necessárias. “Essa é uma condição que requer a atenção e o conhecimento do profissional de saúde materno-infantil que acompanha a lactante”, alerta.

O que a mulher sente

Entre os desconfortos gerados pela amamentação estão sensações como coceira na pele, arrepios, agitação e irritabilidade. Eles podem ainda vir acompanhados por sentimentos de culpa, vergonha, ansiedade e até agressividade, com a necessidade de afastar a criança. “O conflito entre a raiva e a vontade de nutrir, alimentar, abraçar e acolher o bebê é um dos fatores fortes nesse processo que requerem apoio, compreensão e intervenção”, afirma o pediatra.

Vale lembrar que a amamentação é um período que recebe ações de hormônios (predominantemente, prolactina e ocitocina), com forte influência não só nas mamas, mas também em questões emocionais, podendo gerar ansiedade, estresse, entre outros. É também por isso que a intervenção precisa acontecer o quanto antes, evitando que a situação evolua - como consequência - para um quadro depressivo de graus variáveis.

É preciso reforçar que “não se trata de rejeição ou desamor em relação à criança, mas que, em algum ponto, é o próprio organismo indicando a necessidade de uma readequação no processo”, destaca o médico.

Quais são as causas conhecidas?

A perturbação pode acontecer com qualquer mãe lactante e em qualquer fase da amamentação. Embora suas causas ainda não tenham sido completamente determinadas, já são conhecidos alguns possíveis fatores e situações que podem sensibilizar ou desencadear esse processo, como aponta Chencinski:

* Sobrecarga física e emocional: cansaço, privação de sono, rede de apoio insuficiente e “obrigação” cultural e social de amamentar.
* Questões hormonais: apojadura, menstruação e transição para períodos ovulatórios.
* Desafios da amamentação: livre-demanda, amamentação prolongada, gemelar, lactogestação [quando a mulher amamenta estando grávida] e tandem [quando a mulher amamenta dois filhos de idades diferentes].

Consequências para o bebê

A perturbação da amamentação é uma condição que atinge diretamente apenas as lactantes, entretanto, “as consequências podem afetar a continuidade da amamentação e, por fim, o bebê”, esclarece o pediatra.

Dependendo da gravidade e da duração do processo, pode ocorrer uma mamada muito desconfortável, gerando desafios à manutenção da amamentação e podendo levar até mesmo ao desmame precoce. “A princípio, enquanto a mãe puder suprir as necessidades nutricionais do bebê, não é necessário complementar. Em crianças que já comem (após os seis meses), o aporte nutricional de outra forma pode até se ajustar”, diz Moises Chencinski. Portanto, é primordial que o acompanhamento pediátrico seja feito da forma recomendada - no primeiro ano de vida, com consultas mensais - para avaliar a necessidade de complementar a alimentação do pequeno.

O que fazer ao reconhecer os sinais

“Se a mulher perceber que houve alguma mudança que trouxe desconforto ou até dúvidas no processo da amamentação, a busca de uma conversa, a troca de ideias com outras mães e o esclarecimento dessas questões com um profissional de sua confiança são ações cruciais no caminho da identificação e intervenção precoces”, alerta o médico.

Também nesse sentido, o acompanhamento pediátrico se mostra mais uma vez fundamental, pois pode ser esse o profissional a identificar o problema. “É básico analisar possibilidades hormonais, avaliações clínicas e recomendações a respeito do estilo de vida, quando for possível”, diz Chencinski.

Pode ser sugerido ainda o acompanhamento de outros especialistas, como de consultora de amamentação, para fazer ajustes, e de psicóloga perinatal, para lidar com as possíveis consequências emocionais da questão.

O pediatra lista, a seguir, sugestões práticas que podem ajudar de acordo com cada caso:

* Reorganizar a livre-demanda, tentando ajustar o número de mamadas.
* Mulheres que fazem a lactogestação e/ou o tandem podem reduzir as mamadas e até considerar a possibilidade do desmame gradual do mais velho.
* Em situação de gemelares, tentar não oferecer os seios para os dois ao mesmo tempo, separando as mamadas.
* A amamentação noturna também pode ser mais bem aconselhada e trabalhada para que a mãe possa descansar e se recuperar.
* Se houver algum quadro que provoque dor na amamentação, seja por parte do bebê (pega inadequada, presença de freio de língua impactante, entre outras) ou da mãe (fissuras, mastite, hiperlactação etc) é preciso um diagnóstico adequado e uma intervenção precoce.

É preciso buscar ajuda

Para fazer essas e outras possíveis readequações, a orientação de uma consultora de lactação pode ser interessante. Além disso, participar de grupos de apoio de amamentação é uma opção a ser considerada, já que a troca de experiências com amigas próximas nem sempre é suficiente.

Cinthia Calsinski, enfermeira obstetra pela UNIFESP e consultora internacional de lactação, acrescenta que nem toda mulher sente os mesmos desconfortos com o uso de uma bomba extratora ou ordenhando a mama com as mãos, e que as sensações incômodas estão mais ligadas à descida do leite, que duram de 30 segundos a dois minutos. “Por isso, vale a tentativa de estimular a descida do leite de outras maneiras e colocar o bebê no seio após a melhora dos sintomas”, sugere.

Por fim, ela reforça a importância de trabalhar o sentimento de culpa. “Diferenciar as sensações de depressão pós-parto e baby blues é muito importante para que a mulher busque apoio e tenha mais tranquilidade”, conclui.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545