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Você sabia que existe uma Semana Mundial de Aleitamento Materno?

Do site da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo

por Dr. Moises Chencinski

01/08/2023

Em 2023 celebramos a 32ª Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM), que acontece entre os dias 1º e 7 de agosto e tem como tema: “APOIE A AMAMENTAÇÃO. FAÇA A DIFERENÇA PARA MÃES E PAIS QUE TRABALHAM”.

No Brasil, a lei federal nº 13.435/17 institui o mês de agosto como o Mês do Aleitamento Materno, criando assim o AGOSTO DOURADO (o leite materno é considerado o padrão ouro da alimentação infantil), desde 2017.

O ponto de partida para a criação da SMAM foi uma reunião (“Amamentação na década de 1990: uma Iniciativa Global“), realizada em Florença, na Itália, de 30 de julho a 1º de agosto de 1990, no Spedale degli Innocenti (Hospital dos Inocentes), com a presença de formuladores de políticas da OMS/UNICEF, copatrocinada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (A.I.D.) e a Autoridade Internacional de Desenvolvimento da Suécia (SIDA), com uma proposta de ações até 1995.

O resultado desse encontro foi a Declaração de Innocenti, assinada por 40 representantes de 30 países, do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), OMS, FAO (Organização para Alimentação e Agricultura), do Banco Mundial e outras instituições.

Em fevereiro de 1991 foi criada a WABA (World Alliance for Breastfeeding Action), em uma reunião de ONGs (IBFAN, La Leche League, ILCA, ABM, entre outras), com a ideia inicial de celebrar um dia (1º de agosto, pela data da assinatura da Declaração de Innocenti), para reforçar a importância do aleitamento materno e discutir formas de implementar a sua prática de forma ampla. Assim, o que começou com um dia (1º de agosto), passou a uma semana em 1992 e, no Brasil, desde 2017, tem um mês (agosto) dedicado à proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno.

A cada ano, a WABA estabelece um tema a ser trabalhado mundialmente, cria um slogan e uma proposta de ações para que cada país aplique dentro de sua cultura, suas características sociais e econômicas, mas sempre com a intenção de proteger, promover e apoiar a amamentação. Assim, a 1ª SMAM foi oficializada em 1992, com o tema: “Iniciativa Hospitais Amigos da Criança”.

Muito se fala sobre a Declaração de Innocenti, mas a imensa maioria dos profissionais de saúde materno-infantil desconhece o seu teor. Esse documento de 1990 traz, já na sua essência, grande parte das propostas que se discutem ano após ano, incluindo a de 2023 sobre as condições de trabalho para as mães, especialmente quando voltam de sua licença-maternidade.

Muitos foram os temas das Semanas Mundiais definidos pela WABA, desde a Iniciativa Hospital Amigo da Criança (1992 e 2010), passando pelos direitos da mulher no trabalho (1993, 2015 e agora em 2023), pelo Código Internacional de Substitutos do Leite Materno (1994 e 2006) e por questões a respeito da era da informação, rede de apoio, saúde materno-infantil, aleitamento materno na primeira hora de vida, exclusivo até o sexto mês e a introdução de novos alimentos.

E assim, ano a ano, se levanta uma nova frente de resistência e de luta, mas sem que se deixem de lado as temáticas anteriores. Vale ressaltar que o aleitamento materno aparece como coadjuvante e parceiro em outras datas representativas durante o ano, como no OUTUBRO ROSA, de prevenção ao câncer de mama, pela proteção conferida através do leite humano. O NOVEMBRO ROXO, mês dedicado à prematuridade, também reforça a importância do leite humano como melhor forma de nutrição para diminuir os quadros de doenças e oferecer maior chance de alta mais precoce para as díades mães-bebês. Em 19 de maio celebra-se o Dia Nacional e Mundial de Doação de Leite Humano, destacando a importância da nossa Rede de Bancos de Leite Humano, a maior do mundo, que inclusive exporta tecnologia para muitos países. “Um pequeno gesto pode alimentar um grande sonho: Doe leite materno”. Esse foi o tema oficial da campanha deste ano.

O Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo lançou um e-book: “30 anos de história da Semana Mundial de Aleitamento Materno”. Nesse documento, estão os temas de cada ano, com uma explicação sobre as ações propostas pela WABA e aplicadas no Brasil desde 1991, sobre o início da caminhada, até 2021, com a 30ª SMAM.

A amamentação é um processo único que:

- fornece nutrição ideal para bebês e contribui para seu crescimento e desenvolvimento saudáveis;
- reduz a incidência e gravidade de doenças infecciosas, diminuindo assim a morbimortalidade infantil;
- contribui para a saúde da mulher, ao reduzir o risco de câncer de mama e ovário, ao aumentar o espaçamento entre as gestações;
- fornece benefícios sociais e econômicos para a família e a nação;
- proporciona à maioria das mulheres uma sensação de satisfação quando realizada com sucesso.

Pesquisas recentes descobriram que:

- esses benefícios aumentam com o aumento da exclusividade da amamentação durante os primeiros seis meses de vida e, posteriormente, com o aumento da duração da amamentação com alimentos complementares;
- as intervenções do programa podem resultar em mudanças positivas no comportamento da amamentação.

Como meta global para a saúde e nutrição materno-infantil ideais, todas as mulheres devem poder praticar a amamentação exclusiva e todos os bebês devem ser alimentados exclusivamente com leite materno desde o nascimento até os 4-6 meses de idade. Depois disso, as crianças devem continuar a ser amamentadas, até dois anos de idade ou mais, e receber alimentos complementares apropriados e adequados. Esse ideal de alimentação infantil deve ser alcançado criando um ambiente apropriado de conscientização e apoio para que as mulheres possam amamentar dessa maneira.”

Esses são alguns trechos da Declaração de Innocenti sobre a proteção, promoção e apoio à amamentação (vale a leitura na íntegra), que trazem informações interessantes sobre o aleitamento materno, o leite humano e as propostas para a compreensão dos desafios que as mães superam quando querem amamentar seus filhos.

E essa é uma responsabilidade de todos nós, governo e suas políticas públicas; empresas e licenças maternidade e paternidade, com salas de apoio à amamentação; da sociedade, sem preconceitos; das mídias e das redes sociais, com informação científica ética, atualizada e sem fake news; das escolas, desde o fundamental até as universidades, com educação continuada sobre o tema; dos profissionais de saúde materno-infantil, com estudos constantes, prática ética, sem conflitos de interesse; da família e redes de apoio, permitindo que a díade mãe-bebê se beneficie do padrão ouro da alimentação infantil.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545