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Cada bebê, cada mãe que possa ter escuta, acolhimento, apoio, compreensão faz diferença e representa um mundo inteiro

Do site da Crescer

"Independentemente da idade, enquanto o leite materno for fonte de alimentação para uma criança, ele ainda traz vantagens nutricionais, metabólicas, imunológicas, cognitivas, ortodônticas, sociais, de vínculo que não têm preço", destaca pediatra

por Dr. Moises Chencinski - colunista

08/03/2023

Matéria publicada aqui na Crescer, com minha participação, chamou minha atenção. A venda de leite materno no Reino Unido para um público masculino, pela internet, pago em criptomoedas.

Alguns sites de venda expõem mulheres, com fotos de seus bebês no perfil, anunciando o seu "produto" e mostrando a sua fonte: fotos de seus seios.

Além das habituais questões de assédio, a procura foi embasada, muitas vezes, na busca de um novo suplemento para "manter a forma e a saúde", o “ouro líquido” e para ajudar na "construção de músculos", pelas características marcantes do padrão-ouro da alimentação infantil. E isso não é de hoje.

A matéria atual cita essa minha participação em uma anterior (de 2.015), mas que reforçava a preocupação desse comércio online, na época, nos Estados Unidos, focada na busca do leite materno por outras mães que não conseguiam amamentar seus filhos, mas também pelos fisiculturistas ou, então, por outras pessoas pelas propriedades de rejuvenescimento da pele. 

A prática da comercialização do produto (leite materno) direcionada a bancos de leite, abordada na Inglaterra, por exemplo, é ilegal aqui no Brasil, conforme a RDC nº 171, de 2.006, em seu artigo 5.


Tem uma conta que não fecha...

A recomendação da Organização Mundial de Saúde, da Sociedade Brasileira de Pediatria, é que o aleitamento materno seja desde a sala de parto até dois anos ou mais, exclusiva e em livre-demanda até o sexto mês.

Ainda estamos aquém das taxas requeridas aqui no Brasil, como mostram estudos mais recentes (2.019). São várias as possíveis causas para isso. Uma delas... ainda fake news.

E uma delas afirma que após os 6 meses de idade, o leite materno não traz benefícios à saúde do lactente, que após um ano ele “vira água” e que após os 2 anos ele só representa o carinho e o vínculo, porque não tem mais valor nutricional.

Então, deixa eu ver se eu entendi. O alimento que é considerado padrão-ouro da alimentação infantil não tem "utilidade" até dois anos ou mais, mas é vendido, por um preço absurdamente superior aos seus substitutos e concorrentes, para adultos que querem fortalecimento muscular por conta de suas propriedades?

Não fosse por tudo isso, além dos riscos da origem (extração, armazenamento e manutenção), transporte, adulteração, conservação, não há garantias da ausência de doenças no leite adquirido.

Para que fique claro, sempre, se a recomendação é para amamentação até dois anos ou mais, o que significaria amamentação prolongada? E existem benefícios em várias áreas do crescimento e desenvolvimento infantis, de amamentar por mais de dois anos, se essa for a opção da mãe.

É evidente que o leite materno tem uma representatividade diferente entre o momento em que ele é o único alimento necessário e suficiente para um lactente (até o 6º mês) e o período em que essa criança já tem outras fontes alimentares, outras atividades e outros interesses.

Mas, independentemente da idade, enquanto o leite materno for fonte de alimentação para uma criança, ele ainda traz vantagens nutricionais, metabólicas, imunológicas, cognitivas, ortodônticas, sociais, de vínculo que não têm preço.

E só pra relembrar: do “mame” ao “desmame” quem decide o presente e o futuro da amamentação são mãe e bebê. Cabe a nós, profissionais de saúde, sociedade, mídia, proteger, apoiar e promover o aleitamento materno, com empatia e sem julgamentos.

 

E para concluir, no Talmud judaico, citado em uma cena do filme “A lista de Schindler”, há uma frase que pode fazer coro às questões da amamentação:

"QUEM SALVA UMA VIDA, SALVA UM MUNDO INTEIRO."

Cada bebê, cada mãe que possa ter escuta, acolhimento, apoio, compreensão faz diferença e representa um mundo inteiro. No mínimo, o seu mundo inteiro.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545