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É preciso mais escuta ativa e menos condenações

Do site da Crescer

Somos seres julgadores que têm sua própria verdade. Como podemos deixar de julgar as pessoas, em especial as mães? A reposta está na empatia

por Dr. Moises Chencinski - colunista

26/04/2022

É possível não julgar uma mãe?

Alerta de spoiler!

Aconselhamento não é dar conselhos.
- Escutar não é ouvir.
- Empatia não é simpatia.
- Julgar não é culpar.

Curiosidade? Segue aí.

Pelo menos, desde a publicação de um artigo de revisão (2004) para profissionais (Aconselhamento em amamentação e sua prática), não há como abordar saúde materno-infantil e muitos outros temas sem essa visão e sem essa prática. É um texto que mereceria ser emoldurado e exibido em todas as aulas que tratam de amamentação.

Aconselhar ou dar conselho é dizer à pessoa o que ela deve fazer; aconselhamento é uma forma de atuação do profissional com a mãe onde ele a escuta, procura compreendê-la e, com seus conhecimentos, oferece ajuda para propiciar que a mãe planeje, tome decisões e se fortaleça para lidar com pressões, aumentando sua autoconfiança e autoestima.”

ESCUTA ATIVA. EMPATIA. SEM JULGAMENTOS.

Conceitos que parecem simples e objetivos. Mas, como não são observados de uma forma adequada, podem criar confusões.

Escuta ativa
Gosto demais de um texto do Rubem Alves que se chama ESCUTATÓRIA (do livro “O amor que acende a lua”). Recomendo a leitura. Destaco alguns trechos:

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil...
Daí a dificuldade:
A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...
Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.

E conclui:

A beleza que se ouve no silêncio.
Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.”

Escutar vai além do ouvir. Escutar é “ouvir com atenção e interesse verdadeiros”.

Empatia

Empatia não é simpatia. Isso confunde demais, porque são dois “bons sentimentos” que até se parecem, mas diferem na sua essência.

Dicionário? Dessa vez com sinônimos e antônimos.

EMPATIA
- Habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa.
- Compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem.
- Antônimo: INDIFERENÇA.

SIMPATIA
- Afinidade entre duas ou mais pessoas pela semelhança e proximidade de sentimentos e pensamentos.
- Atração por uma coisa, ideia, causa etc.
- Antônimo: ANTIPATIA.

Você pode ser simpático, sem ter empatia.

Julgamento 
Dicionário:
- Modo de pensar, de ver; conceito, juízo, opinião.
- Formar conceito sobre alguém ou alguma coisa.
- Antônimo: SE ABSTER.

Será que é possível não julgarmos alguém ou alguma coisa?
Somos seres julgadores. Sempre. Mesmo quando nós nos abstemos.
Aproveitando a proximidade, quando você anula seu voto em uma eleição é porque julga que nenhum dos candidatos te representa.

Vou te propor um exercício complicado (olha o julgamento). Conte quanto tempo você passa sem dizer uma dessas palavras: bonito, bonitinho, feio, bom, ruim, melhor, pior, fácil, difícil, divertido, desonesto, simpático, maravilhoso, horrível, esperto, inteligente, pobre, rico, feliz, triste, adequado...

Cada uma dessas palavras representa uma “verdade” (sua) sobre alguém ou alguma coisa. Quem nunca? Como fazer para não ter uma opinião? E como fazer para não mudar de opinião?

Então, para nossa reflexão, especialmente no que diz respeito às mães, mesmo se você JULGAR, a proposta poderia ser NÃO CULPAR e NÃO CONDENAR.

Por mais escuta ativa, por mais empatia, por, ainda assim, sempre que possível, menos julgamentos, mas, definitivamente, sem culpas ou condenações.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545