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Mais um 8 de março. Igualdade ou equidade?

Do site da Crescer

O pediatra reflete que mais da metade da população brasileira é composta de mulheres, mas ainda assim elas são minoria na política, cargos gerenciais e sofrem mais violência

por Dr. Moises Chencinski - colunista

08/03/2022

Já começamos pelas polêmicas do texto no dicionário:

Igualdade:
1-Qualidade daquilo que é igual ou que não apresenta diferenças; identidade.
6-Qualidade que consiste em estar em conformidade com o que é justo e correto; equidade, justiça.

Equidade:
1-Consideração em relação ao direito de cada um independentemente da lei positiva, levando em conta o que se considera justo.
2-Integridade quanto ao proceder, opinar, julgar; equanimidade, igualdade, imparcialidade, justiça, retidão.

Apesar de aparecerem uma na definição da outra, igualdade e equidade não são sinônimas.

Mulheres e homens “nunca terão” igualdade.
Têm genéticas, órgãos, fisiologias diferentes, pensamentos e visões peculiares.

Mulheres e homens “precisam ter” equidade.
Seus direitos, suas obrigações, seus trabalhos, seus salários, suas responsabilidades devem ter seus espaços igualmente respeitados.

Dia da mulher tem um histórico de luta, de conquistas, com algumas versões sobre sua verdadeira origem, desde o final do século 19. Melhores condições de trabalho, direito ao voto, fatos relacionados à política, ao sindicalismo e até à Revolução Russa de 1917 são capítulos dessa caminhada.

Não gosto muito de dias específicos para celebrar ou comemorar. Na atualidade, perde-se o sentido original e sua representatividade em troca de um caráter festivo e comercial. Todos os dias são das mães, da mulher, das crianças, dos pais, da família, da saúde, do aleitamento materno. Mas, se pelo menos, servir de alerta, para reflexão... que seja.


A verdadeira rainha de tudo

Muita calma nessa hora. Sem rótulos, sem limitações.

Muito tempo na estrada, além de respeitar e admirar muitas mulheres na minha vida (Raquel – minha mãe, Regina – minha sogra Z’L * – Janice – minha tudo), nessa semana recebi uma notícia que me faz pensar em uma das mulheres desse século (na verdade, vinda do século passado, mais precisamente 21 de abril de 1926 – hoje com 95 anos), em sua vida e suas conquistas (por exemplo, ser a primeira monarca feminina da Casa de Windsor e Governadora Suprema da Igreja da Inglaterra).

Mas, de volta à notícia:

Rainha Elizabeth quebrou a regra real de amamentação que a princesa Margaret achou 'desagradável'”

Amamentar ou alimentar com fórmula é uma das primeiras e maiores escolhas de uma nova mãe. Tradicionalmente, as mães reais não amamentavam seus bebês. Segundo a matéria, amamentar “em alguns casos, foi considerado, na melhor das hipóteses, uma inconveniência, na pior, totalmente prejudicial” e que “a maioria dos bebês reais eram entregues a uma ama de leite”.

A historiadora real, Amy License, explicou que “mulheres reais eram muitas vezes pouco mais que figuras simbólicas, dando à luz criança após criança para garantir uma dinastia. Isso foi particularmente importante em tempos de alta mortalidade infantil, quando a produção do segundo, terceiro e quarto filhos era crucial.”

A rainha foi uma pioneira que optou por ignorar esse hábito e amamentou todos os quatro filhos sozinha, gerando uma nova tendência na maternidade real, inclusive influenciando na forma como Kate alimentou seus três filhos, o príncipe George, oito, a princesa Charlotte, seis, e o príncipe Louis, três. Além delas, a princesa Diana insistiu em amamentar William e Harry e, durante uma turnê real pela África do Sul, Meghan Markle também compartilhou que amamentou seu filho Archie.

A monarca foi forçada a suspender a amamentação de Charles, seu primogênito, aos 2 meses, por ter contraído sarampo e ter se sentido muito doente para prosseguir no aleitamento.

Conta-se que a princesa Margareth, irmã da rainha, não era tão fã da decisão da realeza de amamentar seus bebês - ela achou "desagradável".

Assim, mais uma vez, uma mulher mudou o rumo da história, dos costumes, da sociedade e, logicamente, da amamentação, uma prerrogativa do protagonismo materno.

Vale lembrar que a maioria da população brasileira é composta de mulheres: 52,2% segundo estimativa do IBGE-2019 e 51,8% segundo PNAD continua-2019.

E, mesmo assim, as mulheres, representam:

- Apenas 16% dos vereadores eleitos (2.020);
- Apenas 37,4% dos cargos gerencias (2.020);
- Ainda ganham 81% do salário do homem; 70% - mesmo no mesmo cargo; 82% - mesmo com ensino superior, independente da região do país (2020).
- Ainda sofrem mais violência e maior taxa de homicídios domésticos (“no lar”) do que os homens: 30,4% vs. 11,2% (do total).
- Relatório do Banco Mundial (Women, Business and the Law 2022) revela que quase 2,4 bilhões de mulheres no mundo, entre 15 e 64 anos, não têm os mesmos direitos econômicos que os homens.
- Pelo menos 178 países no mundo ainda apresentam barreiras legais que dificultam a participação econômica das mulheres no mercado de trabalho.

Dia 8 de março para conscientização, transformação, respeito, equidade.

Dos filhos desse solo
És mãe gentil
Mátria Amada, Brasil

 

*Z’L - em hebraico, da expressão “Zicaron Lebrachá”, que significa “abençoada seja a sua memória” (pessoas falecidas)

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545