Publicações > Meus Artigos > Todos os Artigos

VOLTAR

Infância doce, com cuidado no açúcar

Do blog Pediatra Orienta - SPSP

Avó é mãe com açúcar.
Que beijinho doce que ele tem.
Mamãe passou açúcar em mim.
Isso é tão fácil quanto mamão com mel.
Ele é uma pessoa tão doce.

Relatores: Dra. Cátia R.B. Fonseca e Dr. Yechiel Moises Chencinski / Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP.

30/04/2018

O açúcar e o doce estão sempre relacionados a coisas boas e positivas, sensações agradáveis e lembranças gostosas. Culturalmente e através dos tempos, a doçura é sempre elogiada, estimulada e melhor aceita do que seu oposto: o amargo. Mas será que isso é sempre verdade? Doçura sempre é favorável, mesmo em forma de açúcar?

A infância é um período muito bom na vida da criança, com muitas brincadeiras e muita alegria. Porém, associar satisfação ao consumo de alimentos doces é um equívoco. Uma vez que a criança não entre em contato com o doce artificial dos açúcares, ela pode sempre gostar do doce natural dos alimentos e das frutas.

A alimentação, principalmente no primeiro ano de vida, é fator determinante na saúde da criança. Por isso, é importante o conhecimento correto e atualizado acerca do assunto, principalmente após os seis meses de aleitamento materno exclusivo, no momento da introdução dos novos alimentos (alimentação complementar), que determinarão os hábitos de vida para o resto da vida desta criança e do adulto.

A criança nasce com capacidade para identificar quatro sabores: doce, salgado, amargo e azedo. Quem determina essa diferença são as papilas gustativas que estão distribuídas ao redor da língua da seguinte forma: doce na ponta, amargo no fundo e salgado e azedo nas laterais. Pesquisas mostram que as crianças sentem o doce de forma mais agradável do que o amargo (apesar de existirem exceções). Só para ilustrar, essa é uma defesa do ser humano desde a pré-história, porque como muitos venenos têm o sabor amargo e as papilas gustativas sensíveis a esse sabor ficam no fundo da língua, a natureza deu a nós uma última chance de cuspir o veneno.

Coelhinho da Páscoa que trazes pra mim? Um ovo, dois ovos, três ovos assim!

Com a chegada da Páscoa, a preocupação sobre o consumo de açúcares e gorduras na forma do tão “querido chocolate” aumenta, especialmente para os pediatras. Assim, é importante passarmos algumas informações e orientações sobre este tema, para conhecimento das mães, pais e avós, de forma simples e clara.

Em 2015, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu uma diretriz a respeito do consumo do açúcar (Sugars intake for adults and children), recomendando fortemente a redução, tanto em adultos como em crianças, da ingestão de açúcares livres para menos de 10% da ingestão total de energia e que até dois anos de idade não seja usado nenhum açúcar de adição. Os açúcares livres incluem monossacarídeos e dissacarídeos adicionados aos alimentos e bebidas pelo fabricante, cozinheiro ou consumidor e açúcares naturalmente presentes no mel, xaropes (de milho), sucos de frutas, mel ou melaço e concentrados de suco de frutas.

Essas recomendações basearam-se na totalidade das evidências revisadas sobre a relação entre ingestão de açúcares livres e peso corporal (evidência de qualidade baixa e moderada) e cárie dentária (evidência de qualidade muito baixa e moderada). Essa orientação cabe também – e especialmente – aos pediatras, desde a primeira consulta ainda no último trimestre do pré-natal da gestante (a partir da 32ª semana de gestação), assim como em todas as consultas de puericultura.

Dados de uma pesquisa realizada no Brasil, em 2008/09 pelo IBGE, verificou que uma boa parte dos açúcares consumidos pela população brasileira está “escondida” em alimentos ultra processados, como refeições prontas, temperos, sucos industrializados e refrigerantes. O açúcar presente naturalmente nas frutas, verduras, legumes e leite fresco não deve ser computados nesta restrição. O consumo destes alimentos in natura deve ser promovido e estimulado, para toda a população, em todas as faixas etárias.

Acima de dois anos, a quantidade máxima de açúcar de adição deve ser de até 25 gramas por dia (5% das calorias diárias ingeridas). Essa quantidade está contida, por exemplo, em aproximadamente 240 ml de refrigerante e em 40 gramas de chocolate ao leite.

Vale lembrar e reforçar que essa é uma recomendação baseada em estudos que mostram a influência negativa do abuso do açúcar na saúde infantil (sobrepeso, obesidade, cáries dentárias, entre outras) que pode trazer consequências tanto para as crianças quanto para os adolescentes e adultos.

Cuidar da saúde é importante, mas é difícil, requer atenção constante, cuidados regulares, apoio e informação. E quanto antes tivermos essa consciência, mais efetiva é a ação de promoção à saúde e prevenção de doenças.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545