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Intervenções em aleitamento materno. Triste, mas necessário e até eficiente.

Do site do Instituto Girassol - Comunidade

Parece que o mundo está despertando para a importância do aleitamento materno. Bom. Muito bom. E junto com esse despertar aparece a conscientização das dificuldades em relação à concretização desse objetivo. Por muito tempo, focamos apenas nas possibilidades e pouco nas intervenções que podem fazer a diferença. Mas isso também está mudando.

27/02/2016

Um exemplo é a lei que pune quem constranger uma mãe amamentando em público. Quando fui entrevistado para saber minha opinião sobre o tema, após uma pequena reflexão, respondi:
Que pena que seja necessária uma lei para que uma mãe possa amamentar seu filho em público, sem ser constrangida. Por outro lado, que bom que existe hoje uma lei para que uma mãe possa amamentar seu filho em público, sem ser constrangida.”

E assim, podemos perceber uma mobilização nacional e mundial para essa proposta que é natural, mas não é fácil e nem simples: ALEITAMENTO MATERNO DESDE A SALA DE PARTO, EXCLUSIVO E EM LIVRE-DEMANDA ATÉ O 6º MÊS, ESTENDIDO ATÉ 2 ANOS OU MAIS.

Vou citar 3 publicações das mais recentes que achei interessantes nesse sentido e que mostram que é possível, porém requer comprometimento e esforço mais constantes.

primeiro foi feito na cidade de Sidh, no Paquistão, onde uma campanha na mídia (2013-2014) promoveu práticas de amamentação saudáveis. Essas informações foram passadas na televisão, através de propagandas e as pesquisas mostraram que 26,7 % das mães viram um anúncio na televisão e 19,4 % viu outro tipo de anúncio. A proporção de mães que receberam informações amamentação através da televisão aumentou de 8,3% para 29,4% depois da campanha e a percentagem de informações de médicos, sogras e parentes ou amigos quase dobrou nesse período. Apesar disso, não foram relatadas melhorias nas práticas de amamentação. A conclusão do estudo em Sindh foi que, a fim de mudar as práticas de amamentação, as intervenções de mídia de massa devem ser associadas a outras intervenções tais como aconselhamento envolvendo membros da família influentes, além das mães.

Outra intervenção feita em Xangai, apresentada em um estudo, mostra que apesar de os benefícios do aleitamento materno exclusivo (AME) serem bem conhecidos, as taxas de AME permanecem baixos e insatisfatório na China. “Mães de primeira viagem” foram divididas em 2 grupos: 285 receberam um programa de apoio de enfermagem especializada enquanto outro grupo de 128 mães (controle) recebeu os cuidados tradicionais. Os dados foram recolhidos 3 vezes no 1º dia de vida, com 3 dias de vida e 6 semanas após o parto. Os resultados mostraram que o grupo que recebeu a orientação apresentava taxas de AME mais elevadas (40,1%, 57,3%, 56,7% e 42,0%) do que o grupo controle (10,9%, 29,7%, 15,6% e 10,2%) em todas as avaliações. Esse programa envolve uma série de estratégias tanto durante a hospitalização e no pós-natal e período em casa. O programa incluía a intensificação do conhecimento da amamentação, melhorando atitudes positivas, estabelecendo normas subjetivas amamentação através de enfermeiros preparados como uma parte dos cuidados de rotina no hospital, follow-up e aconselhamento por telefone para incentivar novas mães a amamentar exclusivamente e ajudá-las a resolver vários problemas durante a sua estadia em casa. Finalmente, uma sessão de aconselhamento e discussão é recomendada como uma intervenção para a preparação de novas mães na volta ao trabalho.

Já o terceiro estudo é do Brasil, avaliando a influência da orientação e preparação de profissionais de saúde que atuam em hospitais na área de aleitamento materno. Para isso, foi feita uma pesquisa em artigos em bases reconhecidas (MedLine, Scopus e Lilacs) e foram selecionados artigos em estudos realizados em países de 5 continentes entre 1992 e 2010 (4 dos estudos do Brasil). O principal público-alvo das capacitações foram profissionais de enfermagem, médicos, parteiras e visitadores domiciliares. Os cursos de capacitação foram diversos, cinco intervenções empregando o treinamento teórico-prático da Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Todas as formas de capacitação apresentaram algum resultado positivo sobre os conhecimentos, habilidades e/ou práticas profissionais e hospitalares, a maioria com significância estatística. E a conclusão foi a de que as capacitações de profissionais de saúde que atuam em hospitais têm sido efetivas em aprimorar conhecimentos, habilidades e práticas.

Assim, fica claro que, apesar de ninguém falar nada contra a importância do  aleitamento materno ainda temos um longo caminho a percorrer para a normalização dessa prática. E a informação das mães, das famílias, dos profissionais de saúde, da mídia e dos governos deve ser insistente, persistente e intensa. Assim, estamos dando um dos passos necessários para estabelecer uma prática que é tão natural, tão claramente benéfica à saúde das crianças, mas que ainda não é simples e nem fácil.

Dr. Moises Chencinski
CRM.: 36.349

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545