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Leite materno sutenta? Será que só ele é mesmo suficiente?

Do site da Revista Crescer

Segundo o pediatra Moises Chencinski, essa é uma pergunta frequente das mães que amamentam. Ele explica que o leite materno contém cerca de 800 nutrientes. Confira

Dr. Moises Chencinski - Colunista

25/05/2021

- Mas nem água?
Não. É exclusivo.
- Um suquinho, nesse calor?
Não. É exclusivo.
- Um chazinho, vai? Pra acalmar ele?
Não. É exclusivo.

Quem nunca?

Essas são situações do dia a dia das mães que amamentam, que acontecem na família, no trabalho, nos grupos do WhatsApp... enfim... cadê essa rede de apoio?

Mães já argumentaram, explicaram, mostraram estudos científicos (parece que estão em baixa ultimamente) para a família, amigas, grupos de mães, até profissionais de saúde que (muitos ainda, infelizmente), por alguma razão, não protegem, promovem ou apoiam a amamentação, que deveria ser natural de todos os mamíferos.

Você sabia?

1. Definições

Aleitamento materno: Criança recebe o leite da mãe (direto da mama ou extraído e oferecido por outro meio.
Amamentação: Criança recebe leite materno (LM) diretamente do seio.
(Assim, não se diz amamentação materna).
Exclusivo: Só ele. Sem necessidade de mais nada.

2. Ideal vs. realidade vs. sonho meu

- Aleitamento materno exclusivo (AME) desde a sala de parto até o 6º mês
(OMS, SBP, AAP e todos os estudos a respeito).

- Dados do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) de 2019:
Prevalência de AME entre crianças menores de seis meses, no Brasil é de 45,7% (era de 37,1% em 2006 – aumento de 8,6% em 13 anos).

- Em 2012, a 56ª Assembleia Mundial da Saúde fixou como meta para 2025, aumentar a taxa de AME nos primeiros 6 meses para pelo menos 50%.

3. Composição do leite materno (LM)

O LM é conhecido como o sangue branco (milhões de células vivas, proteínas, aminoácidos, oligossacarídeos, hormônios, vitaminas, sais minerais, gordura, anticorpos... ufa ... só não tem os glóbulos vermelhos, mas tem muito mais).

São cerca de 800 nutrientes conhecidos no LM (por enquanto), mas vou resumir em dois:

- Água – 85% (alguns estudos mostram até 90%)
Isso quer dizer que o bebê não precisa de mais água, chazinho, sucos ou qualquer outro líquido, especialmente os que mamam em livre demanda.

- “Comida” – 10 a 15% (depende dos estudos)
Bebês nascem em média com 3 kg e 50 cm de comprimento e com um ano chegam a 9 kg e 75 cm.
- Dos 6 kg ganhos: 4,5 kg nos primeiros 6 meses e 1,5 kg entre 6 e 12 meses.
- Dos 25 cm ganhos: 17 cm nos primeiros 6 meses e 8 cm entre 6 e 12 meses.

Assim, enquanto o bebê mama “só esse leitinho” (0 a 6 meses) e sendo “só 10 a 15% de comida” ele ganha 3 vezes mais peso e 2 vezes mais tamanho do que quando ele começa a comer (6 a 12 meses). E não desidrata. Poderoso, hein?

E isso sem contar que AME desde a sala de parto é o primeiro passo importante para prevenir, segundo dados de muitos estudos, 823.000 mortes em crianças menores de 5 anos e 20.000 mortes por câncer de mama, além de uma economia de 302 bilhões de dólares por ano.

E pra fechar com spoilers. É possível amamentar exclusivo:
- mesmo que a volta ao trabalho aconteça antes dos 6 meses;
- mesmo que sejam gêmeos;
- mesmo que sejam 2 crianças (um irmão mais velho e o recém-nascido ao mesmo tempo).

Mas isso tudo será tema futuro aqui na coluna.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545