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Intenção pode ser boa, mas há hábitos que atrapalham e até prejudicam bebês.

09/07/2020

Sua amiga deixa o bebê dela o dia inteiro com colar de âmbar, uma resina fóssil amarelada, porque ouviu que ele tira cólicas. Você quando tinha três meses de vida já frequentava a praia e dormia com o cachorro e acha que por isso cresceu tão saudável. Seu pai diz que não faz mal o netinho dele comer mel e comprou uma máscara de pano para ele usar contra a covid-19.

Essas situações parecem familiares? Se sim, é importante repensá-las —e algumas para já. Isso porque, mesmo com a melhor das intenções e querendo acertar, atitudes como essas podem prejudicar não só a saúde e o desenvolvimento do seu filho, como colocá-lo em sério perigo. 

 

Colar exige atenção até fora do pescoço

Sobre um dos modelos mais buscados pelos pais, o de âmbar, que se popularizou pela fama de conter ácido succínico, uma substância que ajudaria no alívio de dores, como a do crescimento dos primeiros dentes (entre 6 e 14 meses de vida), saiba que ele não é indicado pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) nem pela ABO (Associação Brasileira de Odontopediatria).

"Não existe comprovação científica dos efeitos desse colar, que pode causar enforcamento em crianças pequenas ao prender em algum lugar ou ao ser puxado com a mão. Além disso, se arrebentar pode ter suas bolinhas engolidas ou aspiradas", explica Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra da AAP (Academia Americana de Pediatria).

O alerta do médico também se estende para outros modelos de colar e até mesmo para os cordões de roupa. Márcia Fonseca Borges, médica pela Unifesp (Escola Paulista de Medicina) e pediatra na clínica Pueritia, em São Paulo, também adverte os pais que usam essa peça em outras partes do corpo do bebê. "Na perna tem que ter cuidado com garroteamento [interrupção da circulação], assim como no braço, que também aumenta o risco de o bebê colocar o colar na boca".

Mel pode intoxicar e elevar a glicemia

Mesmo sendo saudável e antimicrobiano, esse alimento não deve ser incorporado a dieta de bebês antes dos 2 anos. Primeiro, porque pode se contaminar pela bactéria Clostridium botulinum, que não é eliminada pelo intestino precoce dos bebês e provoca botulismo, uma intoxicação potencialmente fatal.

Segundo, porque, como o açúcar, ele aumenta os riscos de diabetes, obesidade infantil e modulação do paladar para o doce, o que contribui para a diminuição da aceitação de outros alimentos.

"Por causa do risco do botulismo, o mel é recomendado apenas após um ano de vida. Porém, hoje, como o Novo Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos do Ministério da Saúde explicita zero adição de açúcar até 2 anos, essa medida também passa a valer para o mel", informa Moisés Chencinski, pediatra pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), especialista pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e presidente do departamento de aleitamento materno da SPSP (Sociedade de Pediatria de São Paulo).

Pets ajudam, mas fora do berço

Estudos médicos já confirmaram que a presença de animais de estimação como cães e gatos na infância não só ajuda a fortalecer o sistema imune como diminui o risco de desenvolver, por exemplo, esquizofrenia, asma e alergias. Por outro lado, não é aconselhável que os pets durmam com bebês, principalmente antes dos 6 meses de vida, por uma série de questões.

Chencinski cita o risco de acidentes, alegando que os animais, mesmo domésticos, agem por instinto e por isso não devem ser deixados sozinhos com crianças muito pequenas. Além disso, eles podem deitar sobre o bebê e sufocá-lo, mesmo na cama com os pais —que também oferecem esse risco quando estão em sono profundo— e principalmente à noite.

"Animais também podem contaminar o bebê com fezes e, mesmo que não tenham pulgas, transmitir agentes infecciosos, quando não vacinados ou vermifugados. É muito comum nos cachorros, por exemplo, um parasita chamado giárdia, que tem como principal sintoma a diarreia", diz Ejzenbaum.

Quanto aos gatos, os que têm contato com a rua não devem dormir com bebês e também requerem atenção os de pelo longo, que podem ter fungos na pele.

Cautela com areia, mar e sol

Praia faz bem à socialização e ao desenvolvimento do bebê, que aprende a ter contato com texturas novas, como a da areia. Porém, só está liberada depois dos 6 meses (quando a imunidade está mais forte) e com cuidados: protetor solar, hidratação, sombra, chapéu, camiseta de manga longa etc. Antes dessa idade, não é indicada.

"Nos primeiros meses de vida não se pode usar filtro solar nem repelentes. Para ficar no sol precisa ser em horários restritos, antes das 10h e após às 16h, e sem exposição por mais de 15 minutos, pois o maior perigo em bebês na praia é a queimadura solar. O contato direto com a areia seca também oferece o risco de levarem-na até a boca e os olhos e se contaminarem", explica Borges.

Sobre cuidados com o mar, a pediatra complementa que é preciso que ele esteja próprio para banho, mas que mesmo assim a pele de um bebê muito novinho em contato com a água salgada pode ficar irritada. Além disso, ele também pode se contaminar, ao engolir a água.

Chupeta e máscara de pano: bom ou ruim?

Se por um lado, a chupeta é usada para acalmar o bebê e, de acordo com alguns estudos, até diminuiria a chance de morte súbita (quando a criança com menos de 1 ano morre durante o sono, sem explicações), por outro, é longa a lista de complicações decorrentes do seu uso, que é desaprovado pela SBP.

"Seu uso é o principal responsável pelo desmame antes dos três meses de vida e traz riscos de problemas de respiração, formação de arcada dentária, deglutição posterior e pode dificultar e muito a manifestação das emoções da criança, porque cada vez que ela chora e se agita lhe é dada a chupeta", informa Chencinski, que também faz um pedido aos pais: "Se a criança usa chupeta, tire-a o quanto antes possível, por exemplo, logo após adormecer com ela na boca".

O uso prolongado da chupeta também pode deformar os ossos da face, provocar alterações de sono e cognição, compulsão alimentar, vício em cigarro na fase adulta e facilitar infecções, como diarreias, aftas, candidíase oral e otites. Para minimizar os prejuízos, recomenda-se seu uso após o estabelecimento da amamentação e limitado até 1 ano ou, no máximo, 2 anos.

Quanto às máscaras de tecido, recomendadas pelo Ministério da Saúde como medida preventiva contra o novo coronavírus, elas também devem ser usadas por crianças. Porém, apenas após os 2 anos, com supervisão dos pais durante todo o tempo de uso e se a criança souber retirá-la sozinha.

Borges explica que para bebês é inviável, pois eles babam, tocam e levam objetos para boca o tempo todo (o que umedece e contamina a máscara), se irritam mais facilmente e apresentam restrição na respiração por terem vias aéreas menores. "A máscara pode causar sufocamento na criança", adverte Ejzenbaum.

"Além disso, mesmo acima dos 2 anos, ela precisa ser orientada pelos pais, estar preparada e se sentir confortável e segura para usá-la. A recomendação é ficar em casa. Se for necessário sair, que seja para algo bem direcionado, como, por exemplo, consultas médicas e vacinação", completa Chencinski.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545