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Desmame forçado pode prejudicar a mãe e o bebê. Saiba qual o melhor momento para parar de amamentar.

Do site R7 - Saúde

Especialista explica como evitar traumas ao inserir novos alimentos na rotina alimentar da criança

por Talyta Vespa

28/11/2016

O desmame é um momento difícil na vida da maioria das mamães — e também dos bebês. Isso porque é um dos primeiros sinais de independência que a criança exerce, já que ele deixa de ser totalmente dependente do leite materno. O presidente do departamento de aleitamento materno da SPSP (Sociedade de Pediatria de São Paulo), Moises Chencinski, explicou que já é considerado desmame o momento em que outro tipo de alimento, inclusive a água, passa a compor a nutrição do bebê. 

Tire as principais dúvidas sobre o desmame e veja como tornar esse momento menos angustiante tanto para a mãe como para a criança. Veja a seguir!

Qual o melhor momento para começar a adicionar outros alimentos na rotina do bebê?

A recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde), do Ministério da Saúde, da Sociedade Brasileira de Pediatria é o aleitamento materno desde a sala de parto, exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês, estendido até 2 anos ou mais. 

Assim, a introdução alimentar, inclusive de água, deve ser iniciada a partir do 6º mês, sem pressa, aos poucos, para que a criança se acostume com a nova forma de se nutrir. Vale lembrar que a alimentação introduzida não vai substituir o leite materno. Ela é complementar. O leite materno ainda é o alimento principal entre os 6 e 12 meses

Quais podem ser os comportamentos do bebê nesse período?

Como diz a Dra. Elsa Regina Justo Giugliani, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria):

— Nenhuma criança começa a andar antes de estar pronta e nenhuma criança deveria ser desmamada antes de atingir a maturidade para tal. Não limite a duração da amamentação a um período pré-determinado. Siga os sinais do bebê. A vida é uma série de desmames, do útero, do seio, de casa para a escola, da escola para o trabalho. Quando uma criança é forçada a entrar em um estágio antes de estar pronta, corre o risco de afetar o seu desenvolvimento emocional. 

Existem alguns sinais sugestivos de que a criança pode estar pronta para o desmame. Entre eles poderíamos citar um menor interesse nas mamadas, uma aceitação maior em não ser amamentada em determinadas situações ou locais, não se mostrando ansiosa nesses momentos, chega a dormir sem mamar ao seio e já aceita melhor outros alimentos. 

Além disso, a criança se mostra segura em relação a sua mãe, já aceita outras formas de consolo sem ser o seio, e até já prefere brincar ou fazer outra atividade com a mãe ao invés de mamar.

Vale lembrar que o desmame noturno vem aos poucos, junto com o desenvolvimento cerebral do bebê, que antes dos primeiros três anos de vida pode até acordar algumas vezes durante a noite

Como a mãe deve lidar com isso?

É importante que a mãe compreenda que o desmame começa após os primeiros seis meses de amamentação exclusiva, com a introdução alimentar, através de paciência, persistência e dedicação e além de refeições gostosas, atrativas e saudáveis para o bebê através de um bom ambiente alimentar (físico e emocional). O vínculo continua sendo fundamental nesse momento e a presença constante do mesmo cuidador, sempre que possível a mãe, poderá fazer toda a diferença.

Desmamar não é substituir o leite materno e o seio por mamadeira. Conforme o bebê cresce, o reflexo de sucção cessa até o desmame final e o seio pode ser substituído diretamente pelo copinho (que já pode ser iniciado com a introdução de água, a partir do 6º mês). 

Sempre recomendamos que não se use mamadeiras ou chupetas, mas sabemos que isso ainda ocorre muito pelos hábitos sócio-culturais em nosso país. Assim, se por qualquer razão ocorreu a introdução de fórmulas, mamadeiras e/ou chupetas, é fundamental que seja feito o mesmo “desmame” o quanto antes possível, uma vez que o uso prolongado de leite artificial e bicos artificiais pode trazer problemas para a saúde da criança. Assim, uma alimentação saudável, junto com a família e outras formas de vínculo, associado ao reconhecimento de que o seu bebê já cresceu são importantes nessa fase 

Quais os primeiros alimentos que devem ser introduzidos na rotina alimentar do bebê?

A partir do sexto mês, o Ministério da Saúde recomenda que os pais comecem a alimentar a criança com frutas amassadas. Aos poucos, deve ser introduzida uma alimentação complementar no almoço e no jantar, como verduras e legumes. Do sexto ao oitavo mês, a papinha é uma boa opção. No entanto, a partir do oitavo mês, o especialista recomenda que os pais aumentem a consistência dos alimentos fornecidos ao bebê, para que complete um ano de idade se alimentando de comida normal.  

Segundo as recomendações, não se deve usar nem liquidificador, nem peneira, nem mamadeira e nem os alimentadores (redinhas). Os alimentos devem ser amassados ou em pedaços desde o início.

Recomenda-se não oferecer sucos ou bater os alimentos para que se evite riscos de a criança receber uma alimentação em grande volume, com baixa densidade calórica. O bebê precisa aprender a mastigar, e, desta forma, os pais vão preparar o organismo da criança para que ela consiga digerir todos os nutrientes que vai precisar

Qual deve ser a frequência da amamentação?

A recomendação sempre é a livre-demanda, desde o início, já na maternidade, até o desmame. Mas o que quer dizer livre-demanda? É mamar a toda hora? Esse processo faz com que o bebê exercite seu controle da fome e saciedade. A princípio, quanto mais o bebê mama, mais leite o seio materno vai produzir. Quando o bebê recebe outro tipo de alimentos, ele passa, aos poucos, a mamar menos e assim, gradativamente, o seio diminui a produção do leite. Livre demanda não significa deixar o bebê ficar sugando o seio o tempo todo. A mamada tem que ser eficaz. 

Como, nos primeiros seis meses, recomendamos o leite materno como alimento exclusivo, às vezes o bebê vai matar também sua sede através do leite materno. Além disso, temos que pensar nas necessidades afetivas da criança, que muitas vezes podem ser confundidas com fome. O bebê vai demonstrar, se tiverem esse olhar para ele, que a necessidade é de afeto, de proximidade, do colo de sua mãe e não só do seu leite

Quanto tempo deve durar o desmame até o real fim da amamentação?

O bebê pode se alimentar de leite materno exclusivo até o 6º mês; como alimento principal de 6 a 12 meses, após a introdução da alimentação complementar e como complemento às refeições principais até 2 anos ou mais. Quando o bebê e a mamãe se mostrarem preparados, o desmame ocorrerá naturalmente. Aliás, é até mais comum, o bebê “desmamar” a mamãe e não o contrário. E o tempo até o real fim da amamentação será aquele que for necessário para que seja apenas mais uma fase naturalmente ultrapassada.

E apesar de parecer estranho, quanto mais disponível a mãe se mostrar para atender às necessidades do seu bebê, menos sofrido e mais natural tende a ser o desmame. Garantir ao bebê que ele é amado e será sempre protegido pela sua mãe o deixará mais seguro e mais independente. Se ele não se sentir seguro na sua relação com a mãe, ele pode querer mamar mais só para tê-la por perto

O desmame pode trazer consequências para o funcionamento do intestino do bebê?

A introdução alimentar, a partir do 6º mês, se não for feita no momento adequado e com a forma mais apropriada, pode trazer alguns transtornos para o sistema digestivo do bebê. Assim, é possível que, quando se introduz o alimento, algumas crianças apresentem intestino preso ou ressecamento. O recém-nascido pode evacuar a cada mamada, fezes líquidas, ou passar até 4 a 5 dias sem evacuar, fezes pastosas. 

Aos poucos, esse ritmo também se regulariza e, por volta de um ano de idade, essa evacuação passa a ocorrer com menor frequência, entre uma vez ao dia ou até mesmo uma vez a cada dois dias. Por isso, é importante optar por uma alimentação saudável, que favoreça e acompanhe o desenvolvimento da digestão do bebê

Por que é tão difícil essa separação?

Segundo o especialista, é muito difícil e não natural romper o laço emocional ligado ao ato de amamentar. Todas as questões que envolvem o desmame são difíceis, tanto para a mãe como para o bebê. E há muitos momentos de risco, desde a maternidade, passando pela volta ao lar, os primeiros obstáculos e desafios que a mãe enfrenta quando não bem orientada ou apoiada. Fissuras, pouco leite, muito leite, ganho de peso “insatisfatório”, a volta ao trabalho são alguns dos desafios que a mãe tem que enfrentar e que costumam ser, muitas vezes, causa de busca de grupos de apoio nas redes sociais. 

Muitas vezes, o apoio e orientação dos profissionais de saúde esperados pelos pais, não acontecem da forma adequada e o acolhimento não se torna eficaz. Muito se fala, e até se “cobra” das mães sobre a amamentação e pouco se toca no assunto desmame, que é tão novo quanto iniciar o aleitamento materno desde a maternidade. 

Esse momento (desmame) mexe com muitas questões da vida dessa mulher que já foi filha, esposa e agora é mãe. Todo apoio, toda orientação, todo acolhimento deve ser dedicado pela família, pela sociedade e pelos profissionais de saúde para apoiar a decisão que a mãe e o bebê tomarem, desde o parto até o momento do desmame.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545