Publicações > Meus Artigos > Todos os Artigos

VOLTAR

Os dois lados da dengue

A dengue não é uma doença nova. O Aedes aegipty já é um velho conhecido. Há muito tempo se sabe que o Aedes aegipty é o responsável pela transmissão da dengue.

23/03/2015

Não é de hoje que se conhecem os hábitos do inseto, o que favorece sua proliferação e quais seriam os cuidados necessários para sua erradicação.

INFORMAÇÃO É TUDO.
#Sqn (do facebookês – Só que não).

Em 2015, apesar de toda essa informação, as estatísticas do CVE mostram que estamos beirando 196.000 casos de dengue notificados e mais de 80.000 casos confirmados no estado de São Paulo (600% de aumento em relação à mesma época em 2014), com internações e mortes. E a cada semana esse cenário fica mais aterrorizante. 

DENGUE NÃO É UMA DOENÇA CONTAGIOSA de uma pessoa diretamente para outra pessoa. Tem que ter um Aedes que pique alguém contaminado e leve o vírus para outro alguém não contaminado e descuidado.

Isso quer dizer: SE NÃO TIVER AEDES, NÃO TEM DENGUE.

Então o que falta para resolver isso?
Eu poderia citar uma série enorme de fatores, todos com sua parcela de responsabilidade.

Cidadania. Consciência. Melhor e mais divulgação da informação. Projeto de saúde governamental adequado. A cultura médica e social da prevenção.

Dengue não escolhe classe social e mata

DENGUE NÃO ESCOLHE CLASSE SOCIAL.
Todos nós somos, potencialmente, doentes. É só o Aedes escolher. E não existe um só tipo de vírus, um só tipo de dengue. São 4. E eles não conferem imunidade cruzada (teve um tipo, não vai ter os outros). E cada quadro de dengue de um indivíduo pode ser pior que o anterior, om risco de dengue hemorrágica.

DENGUE MATA. Não existe um tratamento específico, um “antibiótico” contra dengue. Até porque antibiótico DEVERIA ser reservado para quadros bacterianos (e infelizmente não é). Os medicamentos existentes tratam os sintomas da dengue e não o vírus. 

E não é de hoje

Eu escrevo sobre dengue desde 2007. Todo ano. E escrevo praticamente as mesmas coisas. O que muda? As estatísticas mudam. O tipo de vírus muda.

Esse ano (2015), eu escrevi uma série sobre REPELENTES. E mesmo nela, falei da dengue. Na semana em que estava montando o texto (em uma só semana), em uma cidade (uma só cidade – Limeira) houve 3.500 casos de dengue (média de 500 casos por dia). Não há doença com essa estatística. Assustador.

E começaram as questões de pacientes, seguidores do facebook e muita gente assustada pela epidemia, querendo saber sobre o uso de repelentes para proteger crianças desde bebês até as maiorzinhas. Apesar de alguns profissionais referirem a recomendação da Academia Americana de Pediatria a partir dos 2 meses, no Brasil, os repelentes são licenciados apenas para ACIMA DE 2 ANOS DE IDADE (pela ANVISA), exceto um deles (IR3535), mas que tem eficácia bem questionada. 

Uma matéria da Folha de São Paulo, Caderno Cotidiano, que mostra um infográfico com o Manual de Dengue do Hospital Emílio Ribas, aborda o assunto e coloca a seguinte pergunta:

Quais os cuidados com crianças pequenas?

Não use repelentes naquelas com menos de 2 anos de idade.

Muito cuidado com a desinformação. Isso pode causar mais transtornos.
NÃO HÁ LIBERAÇÃO NO BRASIL PARA USO DE REPELENTES (DEET, Icaridina) ABAIXO DE 2 ANOS DE IDADE.

Infelizmente, como citado anteriormente, não temos a cultura da prevenção. Assim, quando a situação fica crítica, todos correm para resolver “os seus próprios problemas”, o que nesse caso é comprar o repelente indicado. 

Resultado?
Acabou o repelente. Não se acha mais o mais indicado.

Não seria mais simples, mais lógico, mais cidadão colaborarmos para a eliminação do agente causador de nossos problemas? Evitar o criadouro dos insetos? 

Assim, teríamos uma mudança de cultura, um resultado prático e definitivo de um problema que se arrasta há décadas e que teve sua situação agravada nos últimos 10 anos.

Quando chega a vacina de dengue?

Está programada para final de 2015 a liberação da vacina da DENGUE.

ÓTIMA NOTÍCIA, não é mesmo?

Depende. Segundo a linha cultural que temos implantada amplamente no país, a expectativa é que, como acontece com a vacina de HPV (que deveria ter muito mais aceitação como fator fundamental na proteção do câncer de colo de útero, que é a o 3º câncer de maior incidência e letalidade no Brasil), passe-se a ideia de que fica desnecessário o uso de preservativos nas relações sexuais e que o Papanicolau (exame preventivo ginecológico) não sejam mais necessários.

ERRADO. MUITO ERRADO.

O mesmo mosquito que transite a dengue é o responsável pelo quadro, muito semelhante, crescente no Brasil conhecido como Febre de Chikungunya.

Ela pode atingir todas as faixas etárias. Depois da picada vem um período de incubação de 3-7 dias (em média: 1-12 dias) o quadro começa com febre, dor e inflamação nas articulações (87% dos casos), dor nas costas (67%) e dor de cabeça (62%).

Enquanto na dengue a principal dor é nos músculos, na Febre de Chikungunya a dor é nas articulações, pior no de manhã, especialmente em tornozelos, punhos e articulações pequenas da mãos. O tratamento específico não está disponível e não há vacina.

Assim, a questão continua sendo matar mosquitos e/ou evitar sua procriação.

CIDADANIA É A RESPOSTA. Será que agora a consciência vai falar mais alto?

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545