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Mercado online de leite materno preocupa especialistas nos Estados Unidos

Do site da Revista Crescer

O que você faria se não tivesse leite suficiente para amamentar seu bebê?

Por Naíma Saleh

31/03/2015


Amamentação: comprar leite humano pela
internet é seguro? (Foto: Thinkstock)

Um estudo publicado no The BMJ (antigo British Medical Journal) constatou que 75% das mães procuram uma solução online. E mediante a preocupação com a alimentação do filho e a ênfase das recomendações médicas para o aleitamento exclusivo durante os primeiros seis meses, muitas delas acabam recorrendo à compra de leite humano pela internet, um negócio que parece ter se expandido recentemente nos Estados Unidos. Vale lembrar que nos EUA não há bancos de leite gratuito, como no Brasil, e alguns locais chegam a cobrar até 4 dólares por 30 mililitros.

 

Entenda os riscos

Tudo o que circula na corrente sanguínea da mulher vai parar no leite: se ela tomar antibióticos, tiver alguma bactéria ou se ingeriu bebidas alcoólicas... tudo passa para o bebê através do aleitamento. Só que, nos bancos de leite regulares, existe um rígido controle de qualidade: o leite é coletado de forma segura, passa por testes para identificar a presença de micro-organismos e outras substâncias, é pasteurizado e armazenado de acordo com exigentes padrões de qualidade.
 
Não é de se surpreender que o mercado online americano de leite materno ofereça preços bem mais baixos. Como não há nenhum tipo de regulamentação para esse comércio paralelo, não há custos para cumprir todos os critérios exigidos em um banco de leite. Um estudo de 2013 realizado com 102 amostras de leite comprado pela web constatou que 25% delas chegou com embalagens violadas, o que aumenta consideravelmente a chance de contaminações, e 89% foram entregues com temperaturas acima do recomendado, o que também contribui para o desenvolvimento microbiológico.

Em outras palavras, não é possível garantir qual a procedência do leite comercializado nem de que forma ele foi manejado. “Existem diversos riscos: de infecção, de dar um alimento vencido. O leite vendido pela internet não passa por nenhum tipo de teste”, explica o pediatra Moises Chencinski, membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Não há registro sobre o estado de saúde das mães, nem sob quais condições a ordenha foi feita e nem se o alimento ficou refrigerado e armazenado como deveria. Não é possível nem mesmo garantir que o leite é realmente humano. 

Outro estudo, publicado em 2013 no jornal Pediatrics, contatou que grande parte das amostras de leite humano compradas pela internet, 101 no total, possuíam crescimento microbiano além de contaminação por bactérias patogênicas, como consequências de más práticas de coleta, armazenamento e distribuição do alimento. O citomegalovírus, da família do herpesvírus, à qual pertencem também os micro-organismos que causam a catapora, a herpes simples e a herpes genital, foi encontrado em 21% das amostras não controladas, enquanto apenas 5% das amostras dos bancos de leite apresentou a contaminação. Além disso, como os doadores não são submetidos a nenhum tipo de exame, vírus como o da hepatite B, hepatite C, HIV e sífilis podem não ser detectados no leite.

No Brasil

Compra online de leite materno (Foto: Thinkstock)
       Compra online de leite materno
            (Foto: Thinkstock)


“Aqui no Brasil, como imitamos tudo o que acontece nos Estados Unidos, o risco de aparecerem mercados de leite online é enorme”, alerta o pediatra. Além da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o aleitamento materno exclusivo pelos menos durante os primeiros seis meses do bebê, outros setores têm incentivado o consumo do alimento, seja o dos fisioculturistas, pelas proteínas, seja o de entusiastas da beleza, que alegam que o leite materno tem propriedades rejuvenescedoras para a pele. Esses novos movimentos ajudam a criar um mercado consumidor ilegal em potencial, reforça Chenchinski. 

Vale lembrar que, ao mesmo tempo em que o Brasil conta com a maior rede de bancos de leite do mundo, todos sob a supervisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), falta leite.  “A rede de bancos de leite humano do Brasil é considerada exemplo mundial. O problema é que ainda não existe o hábito da doação”, explica o médico.

Por isso, nunca é demais reforçar para as mulheres que produzem leite em excesso se tornarem voluntárias para a doação. Para isso, basta localizar qual é o Banco de Leite mais próximo e seguir os passos para a ordenha e o armazenamento. Confira aqui como fazer.
Vale lembrar que o leite cru pode ficar 24 horas na geladeira e 15 dias no congelador.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545