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Antibióticos: a prescrição está adequada?

Do Site da Sociedade de Pediatria de São Paulo - SPSP

Esse tema é árduo, e mexe em feridas de nossa Pediatria. Porém, nessas últimas semanas a imprensa leiga e o dia-a-dia de consultório dão mostras de que vale a pena assumir os riscos e repercussões desse artigo.
Relatores:
Dr. Yechiel Moises Chencinski
Membro do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários e Aleitamento Materno da SPSP

Dr. Tadeu Fernando Fernandes
Presidente do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP

Texto divulgado em 21/08/2014

22/09/2014

A divulgação de uma matéria no Editorial do The Lancet de 16/08/2014 (Prescrevendo antibióticos: uma batalha de resistência) chamando a atenção para um aumento de 36% no consumo de antibióticos no mundo entre 2000 e 2010 faz valer uma reflexão mais criteriosa a respeito.

Em 2013, em uma matéria da Folha de São Paulo (Bactérias resistentes abrem a possibilidade de uma era pós-antibióticos), Margareth Chan, diretora geral da OMS, chama atenção:

“O mundo está prestes a perder essas curas milagrosas”.

Ela se referia às consequências do uso indiscriminado de antibióticos pelo mundo, gerando altos índices de resistência bacteriana, sem uma reposição de novos antibióticos para corrigir essa situação e/ou uma orientação mais adequada quanto ao uso correto dessa classe de medicamentos.

Essa é uma situação muito comum com a qual nós, pediatras, nos deparamos diariamente, por inúmeras razões, entre as quais, por exemplo, a busca cada vez mais constante dos prontos-socorros, como comentou o presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo, Dr. Mário Roberto Hirschheimer, em matéria publicada no blog da SPSP (Pediatra Orienta 28/02/2014) e da “busca pela receita imediata da saúde sem esforços” que está se tornando uma prática muito corrente, mas muito perigosa.

Esse assunto já foi tema de publicações no site Healthychildren.org (vinculado à Academia Americana de Pediatria), com o tema: Antibióticos: quando eles ajudam (Antibiotics: When Do They Help), em que estão explicações, conhecidas com certeza por todos os médicos, pediatras ou não, sobre as reais indicações e riscos do uso excessivo e indiscriminado de antimicrobianos.

O CDC (Central of Disease Control) se manifestou em 15/11/2013, com um alerta sobre o uso correto e adequado de antibióticos e informações sobre resistência bacteriana, com uma semana dedicada ao tema, conhecida como Get Smart About Antibiotics Week (Semana de Ficar Atento Sobre Antibióticos – 18 a 24/11/2013).

Desde 05/05/2011, a ANVISA através da Resolução- RDC Nº 20, publicada no DOU (09/05/2011), na tentativa de coibir o excesso de uso de antimicrobianos, estabeleceu critérios mais rígidos de prescrição e comercialização desses medicamentos. Entre eles, por exemplo:

Art. 5º A prescrição de medicamentos antimicrobianos deverá ser realizada em receituário privativo do prescritor ou do estabelecimento de saúde, não havendo, portanto modelo de receita específico.
Parágrafo único. A receita deve ser prescrita de forma legível, sem rasuras, em 2 (duas) vias e contendo os seguintes dados obrigatórios:

I - identificação do paciente: nome completo, idade e sexo;
II - nome do medicamento ou da substância prescrita sob a forma de Denominação Comum Brasileira (DCB), dose ou concentração, forma farmacêutica, posologia e quantidade (em algarismos arábicos );
III - identificação do emitente: nome do profissional com sua inscrição no Conselho Regional ou nome da instituição, endereço completo, telefone, assinatura e marcação gráfica (carimbo); e
IV - data da emissão.

Art. 6º A receita de antimicrobianos é válida em todo o território nacional, por 10 (dez) dias a contar da data de sua emissão.

Superbactérias, pseudocolite membranosa, transplante de fezes são temas cada vez mais recorrentes em congressos médicos de especialidades, consequentes à prescrição e ao uso indiscriminados e excessivos de antibióticos, gerando quadros cada vez mais frequentes de resistência bacteriana.

O Departamento de Pediatria Ambulatorial não poderia ficar calado diante desse risco que se apresenta aos nossos olhos. Levantamos aqui uma bandeira pelo “uso consciente dos antibióticos” no presente para que no futuro as superbactérias não dominem o mundo.

Chamamos os Departamentos de Infectologia, Otorrinolaringologia, Pneumologia, Emergência, e todos onde está claro, nítido e evidente que o uso de antibióticos está sendo utilizado de modo abusivo, inconsciente e perigoso para a saúde de nossas crianças.

Conclamamos também o público leigo a tomar consciência e ciência dos riscos e benefícios dos antibióticos.

Somente assim poderemos enfrentar os inimigos microscópicos e macroscópicos de nossas crianças.

P.S.: Vale um adendo ao que está na matéria referida acima (um aumento de 36% no consumo de antibióticos no mundo entre 2000 e 2010), referindo que "... Brasil, Russia, India, China, e Africa do Sul respondem por 76% desse aumento."

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545