Publicações > Revistas > Materlife

VOLTAR

Do berço para a cama uma grande aventura

Da Revista Materlife nº 78

Matéria publicada em 17 de fevereiro de 2011 no Pediatrics (revista da Associação Americana de Pediatria), sobre uma revisão de acidentes entre 1990 e 2008, de crianças em quedas de berços e chiqueirinhos, mostra que nesse período (18 anos), cerca de 181.654 (média de 9.560 casos/ano) crianças abaixo de 2 anos de idade foram tratadas em serviços de emergência nos EUA por acidentes relacionados a berços (83%) e chiqueirinhos (12,5%).

A causa mais comum foi a queda (66%) seguida de ferimentos de partes moles (34%), especialmente em cabeça ou pescoço (40%). 

As fraturas (14%) aumentaram em 5 vezes a incidência de hospitalização em relação a outros tipos de ferimentos. Essa freqüência de hospitalização foi 3 vezes maior em crianças abaixo de 6 meses de idade. 

Baseado nessa pesquisa e nas dúvidas mais comuns sobre o assunto, segue um pequeno roteiro para essa mudança. 

Como os pais conseguem saber que já é hora da criança sair do berço para a cama? Existe uma idade mais apropriada? Qual? Por quê? 
Cada criança tem seu ritmo, sua característica. Entender, respeitar e não forçar. Assim é o momento da transição do berço para a cama. Esse é um grito de liberdade que, associado aos primeiros passos, pode transformar a casa em um local pouco seguro para esses desbravadores infantis. A saída do berço pode tanto ser algo natural como sofrido para cada criança. O estímulo, a orientação e a conversa aberta, explicando os motivos da troca podem ajudar nesse caminho. 
Quando o berço, ao invés de reter e proteger a criança, passa a ser um "obstáculo a ser transposto" ou quando o bebê resolve que ele quer deixar de ser bebê e crescer, fiquem atentos. Essas podem ser ótimas dicas de quando iniciar esse processo, a princípio, baixando as grades do berço e orientando essa criança sobre as formas adequadas e os riscos ao subir e descer, para não se machucar. 

Quais os cuidados que se deve ter em relação ao berço da criança para evitar ou pelo menos diminuir qualquer risco de queda? 
As crianças são exploradoras e ganham, a cada dia, habilidades e aptidões que elas “precisam testar”. Enquanto a criança não sabe se levantar sozinha e permanecer em pé, apoiada, ela não corre riscos de cair do berço. 
Mas, ao adquirir essas capacidades ela pode resolver se transformar em "homem-aranha" e escalar o as grades do berço, só para ver onde ela consegue chegar. 
O céu é o limite? Mais ou menos. Na verdade, o chão é o limite.
Só que eles não sabem disso ainda. 
Então, estar ao lado da criança, observar seu estágio de desenvolvimento, abaixar, aos poucos, a altura do colchão no berço são algumas atitudes que podem prevenir a queda do berço. 
Não se deve deixar, dentro do berço, nada que o bebê possa usar como “escada” e apoio para atingir seus objetivos. 
Mas não dá para saber qual é o momento exato do risco da queda. Assim, proteja o chão ao redor do berço com almofadas para que, em caso do “inevitável”, a queda se dê sem muito trauma (físico e até emocional). 
A partir do momento em que o risco fica maior do que os cuidados possíveis para evitá-lo, é hora de pensar em transferir o bebê para sua primeira caminha. 

Nessa transição qual a cama mais indicada? O que os pais devem observar na hora da compra da cama da criança? 
Entre os 2 e os 4 anos de idade a curiosidade, a maior capacidade física e a consciência corporal facilitam o senso de exploração do mundo ao redor. 
Mesmo assim, nenhuma mudança deve ser brusca e tudo deve ser conversado e explicado, mesmo que seja uma decisão já tomada, sendo interessante que a criança possa até participar da escolha e da compra da sua cama nova e de seus complementos (lençóis, travesseiros, etc.), sendo cúmplice dessa transformação. 
A primeira cama deve ser baixa, mais acessível, com cantos arredondados, inicialmente com uma meia grade, para proteção contra quedas, que pode ser retirada quando a criança estiver segura e adaptada. Para evitar que a criança prenda sua cabeça nas grades, os espaços entre as colunas devem ser pequenos (isso desde o berço). Nunca coloque essa cama perto das janelas. Pode ser um grande apoio para 

Quais os cuidados que os pais devem ter para que a criança não sofra nenhuma queda, agora, da cama? 
Não é só a educação que vem do berço. A criança também e os hábitos que ela traz das fases anteriores podem permanecer por algum tempo, de acordo com sua evolução. Assim, não é porque uma criança passa do berço para a cama que o seu sono passa a ser menos agitado fisicamente. 
Isso quer dizer que alguns cuidados precisam ser tomados para ela não cair. A primeira caminha pode ter uma meia-grade de proteção, pelo menos até que a criança se acostume com seu novo ambiente. 
Aos poucos, o sono se adequará e ficará mais tranqüilo. 

Em alguns casos, a transição para a cama não é um processo fácil pois a criança não aceita a mudança. Quais as dicas para fazer essa transição de forma menos traumática? 
Expliquem as razões da cama, valorizando a mudança, o novo espaço e observem as reações da criança. Se vocês perceberem algum sinal de insegurança não eliminem o berço de vez. Se houver espaço, mantenham-no no mesmo quarto, ao lado da cama, para que a criança se habitue a esse ritual de passagem. O sumiço do berço pode ser encarado como um castigo ou uma punição e isso não costuma ser bem aceito pela criança, interferindo, diretamente, em sua quantidade e qualidade de sono, bem como em sua confiança nas atitudes de seus pais. 
Além disso, pode ser interessante, pelo menos em uma fase inicial, ficar um pouco mais ao lado da criança na hora de dormir, especialmente se ela demonstrar insegurança ou essa necessidade relacionada à mudança. Assim como é importante que a criança saiba que você ficará ao lado dela apenas enquanto ela estiver passando por essa fase, e não indefinidamente, ela deve sentir também que essa transição vai acontecer, e que, mesmo não estando no quarto com ela, você estará por perto, sempre que for necessário. 

Uma dica: nascimentos e irmãos, separações, mudanças de escola ou de casa podem adiar o momento adequado para essa novidade.