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Alimentação infantil é coisa muito séria

Da Revista Materlife

Em 1980, quando foi criado o grupo Amigas do Peito pela atriz Bibi Vogel, fiquei indignado e respondi uma matéria escrita em uma revista (não me recordo qual), considerando que os pediatras eram os maiores responsáveis pelo desmame precoce.

Por por Dr. Moises Chencinski

Recebi uma resposta com estatísticas estarrecedoras sobre o assunto e, desde essa época, tenho me proposto a estimular, de todas as formas possíveis, o aleitamento materno, agora exclusivo até o 6º mês de vida e prolongado até 2 anos de idade (ou mais).

Passaram-se 30 anos para que o aleitamento materno pudesse ser protegido por uma lei, ainda engatinhando no país e, ainda, não-obrigatória.

Em fevereiro de 2.010, vejo, entristecido um trabalho feito com 179 crianças, entre quatro e 12 meses, de famílias das classes A, B e C de São Paulo, Curitiba e Recife, coordenado pela Dra. Roseli Sarni, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (uma das autoras).

O resultado dessa pesquisa mostrou os terríveis hábitos alimentares dessas crianças (lembrem-se: de 4 a 12 meses de idade) consumindo “lasanha pré-pronta congelada, macarrão instantâneo, refrigerantes, salgadinhos tipo batata chips, chocolates, sucos artificiais, muita bolacha recheada e leite de vaca integral“.

Todos esses alimentos, que refletem o padrão alimentar das famílias dos brasileiros de classes A, B e C, são inadequados na alimentação de bebês até um ano de idade (alguns deles deveriam ser evitados até os 2 anos) pelo seu baixo valor nutricional e pelo teor prejudicial de gorduras trans, açúcar, sal, sem contar o leite de vaca integral, alergênico e causador de anemia nessas crianças.

Concluindo: estamos alimentando inadequadamente nossos bebês, criando crianças e adolescentes potencialmente obesos (gorduras, açúcar e calorias em excesso), hipertensos (muito sal), alérgicos alimentares (leite, corantes), pré-diabéticos (excesso de açúcares e carboidratos “ruins” nos doces, por exemplo), intoxicados e com gorduras alteradas no sangue (colesterol e triglicérides).

O que esperar de uma “geração não-saúde” como essa em um futuro muito próximo? É necessário interferir nas políticas de educação nutricional e criar uma rigorosa legislação sobre a produção e propaganda de alimentos para a mudança dessa realidade atual.

Cabe a cada segmento de nossa sociedade fazer a sua parte, desde os políticos, os meios de imprensa, os profissionais de saúde (médicos, nutricionistas), as famílias, as escolas, para que possamos informar, instruir e educar os pais a exercerem seus direitos e obrigações de verdadeiros cuidadores.

Não podemos desperdiçar nenhuma oportunidade para estimular o aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida, levado até os 2 anos, com a intrudução gradual, de outros alimentos saudáveis, orientados a cada consulta pediátrica mensal de rotina até 1 ano de vida.

O POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) de agosto de 2.010 já mostrou que mais de 50% da população do Brasil está com sobrepeso assim como uma em cada três crianças de 5 a 9 anos. Até quando isso vai acontecer?