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Amamentação: as 7 maiores dificuldades do aleitamento materno

Do site Finanças Femininas

O famoso “coloca um paninho porque ninguém é obrigado a ver seu peito” traduz apenas uma das dificuldades da mãe que opta pela amamentação. Há o preconceito, mas também há a desinformação e falta de apoio – sem contar nos percalços com o bico, acordadas no meio da madrugada para amamentar etc.

por Ana Paula de Araujo

16/10/2018

Para apoiar a saga silenciosa das lactantes, elencamos as 7 maiores dificuldades que uma mãe que amamenta precisa enfrentar ao alimentar seu bebê e como resolvê-las.

1. Falta de informação

Cada mãe enfrenta uma saga particular quando decide amamentar seu filho. Algumas sofrem com a pegada, outras possuem bico invertido ou sentem muita dor durante o aleitamento. Foi o caso da estudante Seani Fagundes Ferreiro (foto), mãe do Peter, de 2 anos e 6 meses – que tem Síndrome de Down.

O fato de ter o bico invertido, peitos grandes e hiperlactação se juntou à dificuldade de seu bebê em abrir a boca, fora a falta de tônus muscular (hipotonia), problemas cardíacos e palato pequeno. Por isso, o ajuste da pegada demorou um tempo.

“O que funcionou aqui foi me munir de informações, saber que é possível amamentar tendo bico invertido. Cheguei a assistir vídeos ensinando a dar mamar, fui no banco de leite da cidade atrás de consultoria, baixei apostila da OMS [Organização Mundial da Saúde] sobre amamentação”, diz.

Para o pediatra Moises Chencinski, presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SP-SP), é preciso buscar respostas desde o pré-natal junto à equipe de saúde. “Cuidado com as fake news, com as opiniões e experiências de outras pessoas. Cuidar da saúde das crianças é muito mais que um palpite. Procure um profissional de saúde que seja atualizado para informar e que respeite suas opiniões, para te apoiar”, orienta.

2. Pouco apoio na amamentação

Mesmo mães informadas podem sofrer com palpites e opiniões indesejadas, seja de familiares, amigos, da sociedade, colegas de trabalho e até mesmo da equipe médica. Por ter um filho com Down, Seani ouviu muitos palpites e mitos sobre o aleitamento materno.

“Muita gente, inclusive pediatras, queria que eu desse complemento porque o Peter não ganhava peso. Muitas mães param de amamentar por orientação médica, sempre empurram o complemento, nunca estão satisfeitos com o ganho de peso do bebê. Aí a mãe começa a dar mamadeira, começa a confusão de bicos e o bebê começa a pegar errado no peito, atrapalhando, assim, a sucção nutritiva”, conta.

Por isso, é importante que você tenha uma rede de apoio que esteja preparada para promover e proteger a amamentação, ajudando, inclusive, a propiciar oportunidades para as mães que desejam manter o aleitamento materno. “A família, a sociedade, profissionais de saúde, a mídia, as redes sociais, grupos de mães, bancos de leite são base para essa ação”, defende Chencinski.

3. Problemas no trabalho

Voltar ao trabalho depois da licença-maternidade é um drama para as mães, seja pelo medo de ser demitida ou por se preocuparem com o aleitamento materno. Apesar de a lei estar ao lado da mulher, sabe-se que muitas empresas negligenciam as necessidades das lactantes.

Cartilha para a Mulher Trabalhadora que Amamenta, do Ministério da Saúde, orienta as mães a amamentarem antes de sair de casa, ao voltar para casa, aos finais de semana e a oferecerem o leite retirado e coletado, que pode ser guardado por 12 horas na geladeira e congelado por 15 dias para ser oferecido ao bebê enquanto a mãe estiver no trabalho.

“O que os estudos mostram é que uma empresa que apoia a amamentação tem funcionárias mais felizes e que gostam do seu local de trabalho. Crianças amamentadas adoecem menos. Assim, os índices de absenteísmo das mães, nesse caso, são bem menores. Apoiar a amamentação também é bom e favorece a economia da empresa”, defende o pediatra.

Falamos mais sobre os direitos da mulher que amamenta em outra matéria, veja aqui.

4. Problemas de saúde

Quando o bebê nasce prematuro, com alguma deficiência ou doença, amamentar se torna um grande desafio. As gêmeas Catarina e Valentina, hoje com 3 anos e 3 meses, nasceram com apenas 32 semanas e ficaram na UTI neonatal. Como elas vieram ao mundo muito frágeis, o sonho de amamentar de Marina Jacob Lopes, advogada e empreendedora materna, acabou ficando para mais tarde.

Ao ficarem mais fortes, as pequenas puderam receber o leite diretamente do peito da mãe. “A parte muito ruim da UTI é que, por conta dos horários de medicamentos e intervenções hospitalares, é impossível fazer livre demanda. Os bebês são pequenos e estão cheios de fios e sondas. Como eu tenho gêmeas, cada vez que eu amamentava uma, a outra recebia leite materno doado ou fórmula especial para prematuro, se o materno estivesse em falta no banco de leite”, conta.

Marina aprendeu a dar de mamar com suas filhas ainda internadas. Chegando em casa, ainda teve que lidar com a saúde frágil da Valentina. “No primeiro ano de vida da Tina foram umas 3 ou 4 internações, contando a UTI. Amamentar sempre fez com que ela estivesse confortável, sempre fui muito incentivada pelos médicos e sei que é exceção. Ela mamava depois dos remédios, depois dos exames. Achava consolo naquilo tudo.”

“Toda mãe pode produzir e oferecer esse leite ao seu prematurinho. E sempre deve acontecer o estímulo pelos bancos de leite para que essa mãe possa retirar seu leite e manter a produção e a oferta até que o prematuro possa sugar sozinho, assim como após a alta da maternidade”, comenta Chencinski.

5. Comentários e olhares indesejados

A hipersexualização dos seios femininos impede que muitos entendam que o objetivo da mama na natureza é, pasme, dar de mamar. Com isso, podem surgir olhares invasivos e até comentários que culpabilizam a mãe ou têm cunho sexual – como o famoso “coloque um paninho para cobrir.”

Sua arma contra isso? Empoderamento. “Uma mãe que sabe, que conhece, que se informa não precisa se sentir ameaçada. Todas as leis estão a seu favor, desde as leis da natureza até as do sistema judiciário para que ela amamente onde e quando ela e seu bebê julgarem importante”, reitera Chencinski.

O pediatra orienta que, caso você se sinta constrangida, vale buscar ajuda e denunciar quem fez esses comentários. “Se for em um estabelecimento comercial, cabe ao proprietário exercer a proteção e se isso não for feito, ele e seu estabelecimento podem ser denunciados.”

6. Vergonha de amamentar em público

Esses comentários e olhares acabam inibindo muitas mães, que deixam de amamentar o filho na frente das pessoas por vergonha. Existem leis para proteger as mães que queiram amamentar em público, mas não que as obriguem.

“O ponto é compreender qual a razão para essa vergonha, informar, orientar e respeitar a decisão da mãe. Vale sempre lembrar que a recomendação é a livre-demanda, ou seja, o bebê mamar sempre que tiver fome. O contato visual favorece muito a liberação dos hormônios que promovem a lactação, especialmente a ocitocina. Assim, cobrir o bebê e o seio, pode dificultar esse processo. Mas, como essa será uma situação eventual, uma ou outra vez não trará riscos para a amamentação”, ensina Chencinski.

7. Cansaço

“Quando meu segundo filho completou 11 meses, resolvi começar a introduzir a mamadeira para eu poder descansar um pouco. Durante a gravidez eu engordei 13 kg e, até hoje, perdi 23kg por cansaço”, comenta Raisa Pio, mãe em tempo integral do Gabriel, 7 anos, e do Davi, de 1 ano e 1 mês.

Apesar do esforço, o pequeno Davi só aceitou a mamadeira quando completou 1 ano. “Ele é muito grudado em mim e vejo que o peito pra ele é o maior elo. Ele acorda de madrugada só para ir para o peito, mesmo que a barriguinha esteja cheia.”

A solução que Raisa encontrou foi começar a introdução alimentar – que também foi complicada. “Ele trocava a comida pelo peito. Tanto é que a pediatra pediu para deixá-lo sem peito por bastante tempo para ele ter muita fome e comer a comida”, diz. Este processo, obviamente, deve ser acompanhado pelo pediatra.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545