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Injustiça com Fernanda Machado? Deixar criança no berço não é negligência

Do site UOL - Estilo - Infância

"Eu sou a favor da cama compartilhada. Se os pais se sentem confortáveis de fazer, ótimo", opina Chencinski.

por Thamires Andrade Do UOL

26/01/2017

A atriz Fernanda Machado compartilhou no Instagram, na última quarta-feira (25), um vídeo do filho Lucca, de um ano e sete meses, dormindo sozinho no berço. Nos comentários, a atriz recebeu muitas críticas e até foi acusada de "torturar" o menino. "Ontem postei um vídeo do Lucca dormindo em pé no berço. Ele sempre vai pro berço depois do mamá, sonolento, mas acordado, e lá ele brinca, faz uma ginástica do sono que eu adoro assistir pelo monitor. [...] No meio dessa ginástica ele levantou e tava tentando se equilibrar dormindo, sem choro, só tentando ficar em pé enquanto dormia, coisa mais fofa. Mas fui acusada de estar torturando meu filho, deixando ele sozinho no berço, de estar colocando ele em risco, de não amá-lo, de não dar colo", desabafou na rede social.

De acordo com os especialistas ouvidos pelo UOL, a atriz foi mal interpretada por seus seguidores nas redes sociais. "Antes de crucificar ou agredir alguém, é interessante entender melhor a situação. A cama compartilhada é uma possibilidade, mas ninguém é mais mãe ou menos mãe ou dá mais ou menos carinho só porque faz", explica o pediatra e presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), Moises Chencinski.

Por que acham a crítica injusta

Na opinião de Renata Scatena, pediatra especialista pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), a postagem da atriz foi mal interpretada por críticos de uma corrente que defende que as crianças devem aprender a dormir sozinhas pelo choro. “A ideia é que a criança vai ficar chorando sozinha no berço até a exaustão e depois dormirá. Ela vai se acostumar com isso e uma hora vai parar de chorar”, explica a pediatra.

No entanto, não foi o que aconteceu com Lucca, como a atriz descreveu, o menino despertou sem choro. “Acho que, na verdade, a crítica que foi dirigida a ela, era para esses médicos que ainda defendem essa prática. Você pode ensinar a criança a dormir sozinha sem ser por choro forçado. Realmente, não pode faltar colo, afeto e supervisão de um adulto durante todo o processo de aprendizado, que é naturalmente difícil”, explica.

O fato de a criança ter ficado “dormindo em pé” causou indignação em algumas pessoas, mas o pediatra explica que é completamente normal isso acontecer. “Algumas crianças se mexem enquanto dormem: algumas sentam, outras ficam em pé, mesmo dormindo. É uma ação do sono que acontece tanto na cama compartilhada quanto no berço”, diz Chencinski.

Cama compartilhada ou quarto compartilhado?

Não há um consenso mundial sobre a prática da cama compartilhada. "Eu sou a favor da cama compartilhada. Se os pais se sentem confortáveis de fazer, ótimo. Se não se sentem, por quaisquer que sejam as razões, não encaro como maltrato. Pois dar apego, aconchego e carinho independente de dormir junto ou não", opina Chencinski.

Renata destaca que a mais recente recomendação da Academia Americana de Pediatria é usar o quarto compartilhado. "Para diminuir os riscos da síndrome de morte súbita infantil [óbito inesperado de um bebê de até um ano no qual a autópsia não consegue apontar a causa], a preconização é que a criança divida o quarto com os pais em seu primeiro ano de vida. Assim, ela fica assistida e sob supervisão, dormindo de forma segura", explica.

Dores e delícias da cama compartilhada

Um dos maiores benefícios da cama compartilhada, segundo Chencinski, é o estímulo ao aleitamento materno. “Nesse sentido, a prática é muito favorável, pois ela favorece a aderência e continuidade da amamentação por mais tempo, fora o estímulo a criação com apego, carinho e acolhimento”, explica.

No entanto, outros especialistas apontam alguns riscos dessa prática para a saúde da criança, como o de asfixia. “Principalmente entre bebês recém-nascidos. Os pais ficam muito cansados com os cuidados da criança, podem se virar e sufocar o bebê. Ele ainda não tem o reflexo de levantar a cabeça quando tem algo tampando as vias áreas”, afirma Renata.

A própria atriz justificou na postagem que não conseguiu fazer a cama compartilhada com Lucca, pois não conseguia dormir com medo de sufocar a criança.

Importante é a segurança e dormir bem

Escolher o local onde o filho dormirá é uma decisão muito particular e que depende da dinâmica de cada família, no entanto, o importante é que essa criança tenha um ambiente seguro na hora do sono. "Um ambiente seguro é composto por um berço que seja aprovado pelo Inmetro, que tenha distância entre as grades de seis centímetros, pelo menos, e que não tenha protetor, cobertores e bichinhos de pelúcia, para evitar quaisquer riscos de asfixia”, explica Renata.

Ainda no seu post de desabafo, a atriz escreveu: “O Lucca dorme a noite toda desde os 4 meses, no berço dele, no escurinho e no silêncio do quarto dele, sem tortura alguma, isso aconteceu de uma maneira natural. Eu acredito que dormir cedo, no quarto dele, no silêncio e no escuro, são hábitos saudáveis de sono, e não tortura e nem falta de amor.” A pediatra Renata concorda e explica que uma boa noite de sono é muito importante para o desenvolvimento da criança.

“É na hora do sono que são liberados vários hormônios, inclusive os do crescimento, que são importantíssimos para o desenvolvimento. Uma criança que não dorme bem, não come direito, fica irritada e também não absorve tudo que pode. É muito importante a qualidade do sono”, explica. Por isso, a pediatra acredita que ensinar as crianças a dormirem sozinhas –sem ser na base do choro forçado—é uma conquista importante e uma tarefa que demanda muita paciência dos pais.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545