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Métodos para conscientizar pais sobre a vacinação das crianças podem estar falhando

Do site JorNow

Embora os pesquisadores de saúde pública e os profissionais de saúde se esforcem muito para combater a desinformação sobre as vacinas e para aumentar as taxas de vacinação, os métodos atualmente usados para atingir esses objetivos podem ser ineficazes. Pelo menos é o que aponta um novo estudo, publicado na revista Pediatrics.

por Márcia Wirth

24/03/2014

No estudo, os pesquisadores se concentraram na ideia, agora desmascarada e completamente infundada, de que a vacina para sarampo, caxumba e rubéola (MMR) causaria autismo. Num levantamento com 1.759 pais, os pesquisadores descobriram que, mesmo após as explicações dos cientistas de que não existe vínculo algum entre a vacina e o autismo, os pais que participavam do estudo ainda assim tinham reservas sobre a vacina e que, na verdade, eles eram menos propensos a vacinar seus filhos, mesmo depois de ouvirem as mensagens dos pesquisadores.

A primeira grande lição do estudo é que as mensagens que são usadas para promover as vacinas infantis podem não ser tão eficazes assim, e, em alguns casos, podem ser contraproducentes, defendem os autores. São necessárias mais mensagens para o público com base em provas científicas sobre vacinas. E os pesquisadores precisam dominar essa forma de comunicação com o grande público plenamente, ao invés de confiarem em palpites ou na própria intuição.

O mito de que a vacina MMR pode causar autismo cresceu a partir de um estudo britânico de 1998 que já foi completamente desacreditado. O autor do trabalho foi considerado culpado de má conduta científica e não poderá mais exercer a medicina no Reino Unido. Uma série de estudos de larga escala conduzidos desde então não mostrou conexão alguma entre a vacina e o aparecimento da doença. No entanto, o mito sobe o estudo continua bem vivo entre muitos pais...

No novo estudo, os pesquisadores analisaram quatro métodos destinados a combater esse mito de que a vacina MMR pode causar autismo:

1) Oferecendo às pessoas informações das autoridades de saúde sobre a falta de evidências para estabelecer uma ligação entre a vacina e o aparecimento do autismo;

2) Oferecendo informações sobre o perigo das três doenças que a vacina tríplice viral protege;

3) Expondo às pessoas fotos de crianças que tinham uma dessas três doenças prevenidas pela vacina MMR;

4) Expondo às pessoas a história de uma criança que quase morreu de sarampo.

As crenças e atitudes dos pais sobre a vacina foram recolhidas por meio de entrevistas antes e depois das intervenções dos pesquisadores. No início do estudo, o grupo de pais que mais se opunha à vacinação, alegava que, em média, a chance de vacinar uma criança, no futuro, contra MMR era de 70%. Após a exposição desses pais às informações de que a vacina MMR não causa autismo, em média, a chance de vacinar uma criança, no futuro, era de apenas 45%, embora eles alegassem que, naquele momento, estavam menos propensos a acreditar que a vacina poderia causar autismo.

Em outras palavras: dar aos pais novas informações pode provocar mais resistência a vacinar uma criança no futuro? Parece que sim. A razão exata para esse fenômeno não é clara. Para lidar com esta situação delicada, os estrategistas de saúde pública terão que ter em mente, em relação às vacinas, que há uma série de razões para que os pais optem por não vacinar os filhos.

Taxas de vacinação

Diante de um estudo que analisa a intenção dos pais de vacinar ou não uma criança, um dado importante são as taxas reais de vacinação.

"Mesmo diante de resistências aqui e ali, no Brasil, de uma maneira geral, as taxas de vacinação atualmente são altas. Todas as estratégias e os esforços de comunicação devem se concentrar em manter estes números e não levantar mais preocupações sobre a vacinação. Dada a gama de grupos com algum impulso contra a vacinação, provavelmente não é simples encontrar uma mensagem que funcione para todos os pais. Há mensagens que realmente não funcionam, mas sempre podemos nos empenhar em desenvolver estratégias que elevem as taxas de vacinação", defende o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).

Mito: As vacinas não são necessárias.

"A única doença que foi erradicada foi a varíola. Todas as demais ainda estão presentes nas estatísticas mundiais. Algumas, como a coqueluche e o sarampo, continuam a causar doenças no mundo desenvolvido. Outras, como a poliomielite, ocorrem principalmente em países em desenvolvimento, mas podem ser reintroduzidas em qualquer lugar, por meio de viagens internacionais", alerta Chencinski.

Mito: As crianças levam muitas picadas, muito cedo.

"As vacinas são um desafio trivial que as crianças podem gerenciar. Seus corpos constantemente enfrentam agressões do ambiente que desafiam seus sistemas imunológicos a trabalhar duro, como as bactérias que estão em nossa pele, nariz, garganta e intestinos, assim como bactérias em alimentos, água e ar", informa o pediatra. 

Imunologistas da Universidade da Califórnia, em San Diego analisaram o número de desafios imunológicos que uma pessoa consegue responder de uma só vez. Depois de considerar a variedade de compostos em vacinas, incluindo as proteínas bacterianas, polissacarídeos e proteínas virais bacterianas, concluíram que as crianças podem responder, com segurança, a cerca de 100.000 vacinas ao mesmo tempo.

Mito: A vacina tríplice de sarampo, caxumba e rubéola (MMR) provoca autismo.

Esse mito começou em 1998, quando um estudo de autoria de Andrew Wakefield e colegas foi publicado na revista The Lancet. O estudo acompanhou 12 crianças, oito das quais tinham pais que acreditavam que os problemas comportamentais dessas crianças foram causados pela vacina MMR. 

O estudo causou pânico, fazendo com que os resultados da vacinação tríplice caíssem e as taxas de sarampo subissem rapidamente. Os editores do The Lancet já se retrataram oficialmente, citando provas que detinham informações falsas, por isso publicaram o artigo.

Muitos outros estudos, inclusive publicados no Journal of the American Medical Association e no British Medical Journal têm mostrado que o aumento nas taxas de autismo não está ligada à vacina MMR. Um dos maiores estudos de longo prazo foi publicado no New England Journal of Medicine, em 2002. Após acompanhar 537 mil crianças, os pesquisadores concluíram que as taxas de autismo foram as mesmas entre as crianças, independente de terem recebido a vacina MMR ou não.

"Depois de extensas revisões, o Instituto de Medicina, a Academia Americana de Pediatria, a Organização Mundial da Saúde e outras autoridades médicas no mundo todo concluíram a mesma coisa: a vacina MMR não tem nenhuma relação com o aumento do autismo", afirma Moises Chencinski.

Mito: As vacinas não são 100% seguras.

Esta é uma verdade, mas andar na rua não é 100% seguro, nem por isso os pedestres deixam de trafegar. Quase todas as vacinas são injetáveis e podem causar dor, vermelhidão e sensibilidade no local da aplicação. Outros efeitos secundários raros incluem febre, choro persistente e reações alérgicas.

Ainda mais raramente, complicações graves podem ocorrer. Por exemplo, a vacina, agora descontinuada, contra o rotavírus, foi associada a um ligeiro aumento na intussuscepção, um problema de obstrução intestinal. Elas foram recolhidas, reestudadas e atualmente não têm sido associadas a este problema.

"Ficar sem a vacina não é seguro também. A causa mais comum de diarreia severa é o rotavírus, que mata entre 20-100 crianças a cada ano nos Estados Unidos e hospitaliza cerca de 55.000-100.000 crianças. Em todo o mundo, 3 milhões de crianças morrem a cada ano em decorrência do rotavírus, ou seja, é melhor vacinar", diz o médico.

Mito: As vacinas não funcionam.

Algumas vacinas têm em torno de 50 anos, então, a maioria dos jovens não está familiarizada com as doenças que elas combatem. 

Por exemplo, antes que a vacina estivesse disponível, em 1963, quase todo mundo contraia sarampo antes dos 15 anos de idade. Nos Estados Unidos, a doença matava cerca de 450 pessoas a cada ano, a maioria crianças. Após a introdução da vacina, os casos de sarampo atingiram um nível mínimo de 37 casos em 2004. Mas há apenas dois anos, esse número subiu para mais de 130. De acordo com dados das autoridades sanitárias americanas, muitos dos pacientes não eram vacinados por opção. 

Na Inglaterra e no País de Gales, de acordo com a Agência de Proteção à Saúde, uma tendência semelhante de evasão da vacinação causou uma explosão de casos de sarampo: de 56 casos, em 1998, para 1348 casos em 2008. 

"No Brasil, o sarampo já foi a maior causa de mortalidade infantil há cerca de 30 anos. Após campanhas de vacinação e a instituição da sua aplicação nos calendários oficiais de vacinação (público e privado) como parte da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), houve uma queda drástica tanto da sua incidência quanto da mortalidade relacionada a essa doença", diz o pediatra.

Atualmente, há uma epidemia de sarampo mais localizada nos estados do Ceará e de Pernambuco (vírus "importados" de pessoas que vieram da Europa e da África) e todos os serviços de vacinação e de vigilância epidemiológica oficiais do país estão alertando para a importância de estar com a carteira vacinal atualizada.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545