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Diagnóstico psiquiátrico

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As doenças psiquiátricas estão cada vez mais presentes na mídia. O assunto está nos telejornais, nas revistas e até nas novelas. Quase todos já ouviram falar em doenças como depressão, ansiedade, transtorno bipolar, entre outras e ao ouvir as descrições dos sintomas de cada um desses diagnósticos, alguém já deve ter pensado: eu tenho isso!

Mas será mesmo?

Em primeiro lugar, precisamos pensar que apresentar um único sintoma de uma doença não significa necessariamente ter aquela doença. Vejamos um exemplo comum: a febre. Quase todos, em algum momento da vida, já apresentaram esse sinal, que pode estar presente em várias doenças: desde um resfriado simples até uma infecção grave. Tenho certeza que na maioria das vezes que o leitor apresentou febre foi num quadro de resfriado simples, que melhorou após alguns dias ou semanas. Uma minoria dos leitores terá apresentado quadros mais graves, como uma pneumonia, ou mesmo um câncer.

Assim é também com o nosso psiquismo. E veremos isso mais adiante.

O segundo ponto importante a ressaltar é que a espécie humana tem uma característica que a diferencia de todos os outros animais: a capacidade de pensar. E, se por um lado, isso nos torna mais preparados para enfrentar as adversidades da natureza, por outro lado nos deixa também mais conscientes dessas adversidades. Um leão vai atrás de sua presa por instinto e não sofre com isso, pois ele não tem consciência da dificuldade que é achar uma presa, depois esperar o momento certo para atacá-la e ainda tendo que comer a carne crua e sem tempero. Ora, isso tudo ele faz por simples instinto de sobrevivência, sem pensar a respeito. E se pensasse, provavelmente sofreria, afinal a vida de um leão não é das mais tranquilas.

Nós, humanos, somos diferentes dos outros animais, pois temos essa capacidade incrível que é pensar. Temos desejos, sonhos, expectativas, anseios, ambições, planos. E com isso vem também a percepção dos problemas: somos mortais, temos limitações, nossos sonhos muitas vezes são difíceis de alcançar e exigem esforços maiores do que nos sentimos capazes. Portanto, sentimentos como tristeza, angústia, ansiedade, frustração e medo são absolutamente comuns e, muitas vezes, até saudáveis. O medo é um bom exemplo: protege-nos de muitas situações de risco, que poderiam custar nossas vidas.

Mas, então, as doenças psiquiátricas não existem? Existem, sim.

Assim como a febre é um sintoma de algo que pode ser simples, ou uma doença grave, os desconfortos mentais também o são.

Apatia, desânino, variação no humor, irritação, entre outros sintomas podem significar desde sentimentos absolutamente normais até doenças psiquiátricas graves, passando inclusive por causas orgânicas (alterações hormonais, por exemplo).

Na avaliação feita pelo psiquiatra, levamos em consideração os desconfortos psíquicos, mas também analisamos as implicações daqueles sintomas na vida do indivíduo: se ele não consegue mais fazer suas atividades, ou tem comportamentos de risco para si, ou para o outro. Além da fundamental investigação das causas orgânicas (hormonais, neurológicas, entre outras) de alguns quadros de alteração de comportamento, que são mais comuns do que imaginamos.

Portanto, não se faz um diagnóstico psiquiátrico apenas com as informações que são passadas pela mídia, sendo fundamental uma avaliação completa, por parte de um profissional qualificado.