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Pés chatos

O que são os pés planos? 
Aqui estarei considerando aquele bebê lindo e forte que acabou de chegar, e que alguém (geralmente a avó ) notou que o pé não tem curvinha. 
Pés planos (ou chatos) são aqueles que apresentam o arco plantar (curva da sola do pé) diminuído ou mesmo ausente, quando a criança apóia o seu peso nos pés. Importante salientar que a criança deve ficar de pé para se avaliar a curvatura plantar, ou seja, já deve estar em idade de marcha. 
Casos de pés planos congênitos, não serão abordados pois são raros na prática clínica. A grande maioria dos pés planos na criança é flexível, de evolução freqüentemente benigna para a cura espontânea e não deve causar temor nos pais. Não há evidência que os pés planos flexíveis causem incapacidade funcional no adulto. 

Como os pais podem desconfiar? 
Freqüentemente há a história familiar de pés chatos entre pais, avós, tios e primos. A criança pequena com sintomas apresenta cansaço fácil, pede colo em passeios mais longos, apresenta cãimbras noturnas, principalmente em dias de maior atividade física. Estes sintomas, em maior ou menor gráu, devem-se à ação dos músculos da perna que atuam nos pés e que podem estar enfraquecidos, encurtados ou "imaturos". A dor nesses pés é rara. 
Caracteristicamente ao observar o pé da criança, este é chato, sem a curvinha da região plantar. 
Em crianças maiores (6 ou 7 anos) que evoluíram com pés planos, a dor já pode estar presente e a deformidade já causar alterações secundárias nos pés. 

Qual a melhor idade para se avaliar? 
A criança deve estar em idade de marcha, já sem fraldas, o que ocorre freqüentemente a partir 2 anos e meio de idade. Nesta fase, a coordenação motora da criança já tem um bom desenvolvimento e, caso indicado, já se pode estimular exercícios que ajudarão na correção da deformidade dos pés. 
Em alguns casos indica-se o exame de RAIO-X dos pés para avaliação e documentação, principalmente se há a suspeita de deformidade "não flexível" do pé. 

Botas: usar ou não? 
Trata-se de tema controverso e atual. Não há, até a presente data, uma justificativa científica para a prescrição e uso de palmilhas e botas. A evolução do pé plano infantil flexível é a mesma, com ou sem o uso de palmilhas ! 
O médico deve evitar "tratar a família" receitando palmilhas para a criança. É preferível ocupar o tempo explicando aos pais a tendência à correção espontânea dos pés flexíveis. Em alguns casos, no entanto, há lugar para a prescrição das palmilhas: naquelas crianças que apresentam sintomas e nas que têm deformidades acentuadas com desgaste excessivo de calçados comuns. Seu médico saberá avaliar e indicar o melhor tratamento. 

Pode haver indicação de tratamento cirúrgico? 
Sim. Em alguns casos, também existem cirurgias para o pé plano que devem ser estudadas quando a criança já apresentar maturidade óssea suficiente, o que ocorre ao redor dos 7 ou 8 anos de idade. Tais casos são a exceção e não a regra ao se lidar com o pé plano e geralmente a cirurgia é reservada para os casos congênitos (presentes desde o nascimento), para as seqüelas de problemas neurológicos e para crianças portadores de síndromes com várias mal-formações associadas.