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Respiração oral e hábitos deletérios

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O odontopediatra, junto com o pediatra, é o primeiro profissional que recebe a criança, portanto, cabem a ele a oportunidade e a responsabilidade de detectar precocemente alguns problemas, tais como: a respiração oral e a instalação de hábitos deletérios como sucção de chupeta e dedo. 

A respiração oral é a situação onde a boca assume o papel do nariz durante a respiração. Pode alterar o crescimento da face, das arcadas dentárias e comprometer o desenvolvimento global da criança.

O respirador oral apresenta características faciais e corporais típicas, tais como desenvolvimento assimétrico dos músculos faciais, ossos do nariz, lábios e bochechas, lábio inferior curto, mandíbula posicionada para trás e pouco desenvolvida. A alteração da musculatura da face pode influenciar na posição e forma dos arcos dentários, os dentes são projetados para frente, palato ogival (céu da boca alto e profundo), dificuldade para mastigar e engolir alimentos duros e atresia da arcada superior, podendo causar mordida cruzada posterior.

Sua postura corporal também fica comprometida ao respirar pela boca, pois a criança leva o pescoço para frente, os ombros são curvados comprimindo o tórax e o peito fica afundado. Toda essa alteração muscular faz com que a respiração seja rápida e curta, o que causa à criança um cansaço constante.

Assim que o odontopediatra detectar o problema, deve encaminhar o paciente para um tratamento multidisciplinar que envolve otorrinolaringologista e fonoaudiólogo. O tratamento poderá ser clinico e/ou cirúrgico, dependendo de cada caso e da causa da respiração oral.

A amamentação natural é muito importante, pois além de fornecer todos os nutrientes que o bebê necessita até o 6° mês de vida e prevenir doenças, favorece a instalação da respiração nasal.

As crianças que por algum motivo não recebem aleitamento materno e se alimentam através de mamadeira, poderão sentir necessidade de exercitar a musculatura da boca tendendo à instalação de hábitos de sucção como chupeta e dedo. Isso acontece, pois a mamadeira sacia a fome rapidamente, diminuindo o esforço que o bebê faz na hora de sugar.

Quando necessárias, as chupetas devem ter seu uso vinculado aos momentos de sono e irritação, e deve-se evitar seu uso contínuo.
Os modelos indicados são os de bicos anatômicos (ortodônticos) e de silicone. As chupetas inadequadas têm o formato semelhante a uma cereja e não permitem o correto posicionamento da língua, aumentando os riscos de alterações nos posicionamento dos dentes.
Além disso, as chupetas devem ser adequadas à idade e ao tamanho da boca da criança. Prefira as marcas de boa procedência.
Na falta da chupeta, as crianças que ainda apresentam a necessidade de sugar, podem desenvolver o hábito de chupar o dedo, um hábito ainda mais difícil de ser retirado.
Se esses hábitos persistirem por um tempo prolongado, poderão causar alterações nas arcadas dentárias, como mordida aberta anterior.

Portanto, a consulta semestral da criança ao odontopediatra a partir de 1 ano de idade é fundamental para acompanhar o nascimento dos dentes de leite e avaliar o desenvolvimento da face e da arcada dentária. O odontopediatra também dará as orientações adequadas quanto ao uso das mamadeiras e das chupetas, inclusive sobre o momento e a maneira correta de remoção destas e as possíveis alterações das arcadas que podem ser corrigidas naturalmente se o hábito for removido na época correta.

Também é o odontopediatra que irá avaliar a oclusão das crianças de 4 a 5 anos de idade, que persistem com os hábitos de chupar o dedo ou chupeta e que já apresentem alterações nas arcadas dentárias. Muito bem indicado nesta época é o uso dos aparelhos removíveis, pois além de corrigir a oclusão prepara as bases ósseas.

Todos esses cuidados são importantes, pois os pais devem estar cientes que "a criança troca os dentinhos e não as arcadas", que devem apresentar condições favoráveis para receber os dentes permanentes, que começam a nascer por volta dos 6 anos de vida.